Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Bolsonaro teme que TSE proíba sua candidatura

Presidente tem medo de ser cassado, preso e de traição, dizem assessores próximos

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São Paulo

Jair Bolsonaro acredita que o Tribunal Superior Eleitoral pode cassar sua recandidatura. Está muito nervoso porque governo e aliados no Congresso não conseguem implementar medidas que diminuam sua impopularidade (combustíveis, salários, redução do Imposto de Renda etc.) —não o ajudam a governar e o enrolam.

Teme ser "traído" em breve se o risco de derrota eleitoral permanecer alto. Abandonado, acha que aumentaria também o risco de que ele, filhos, próximos e até Michelle Bolsonaro caiam na mão de Justiça ou polícia.

Bolsonaro está com mais medo.

É o que dizem um assessor palaciano e um parlamentar que costuma fazer "pontes" entre governo, Congresso e o Supremo, que leva e traz panos quentes por ser "um amigo da estabilidade institucional e do diálogo", diz.

Presidente Jair Bolsonaro em encontro com empresários - Isac Nóbrega/PR

Assim explicam os últimos dois dias explosivos, em que Bolsonaro, espumando, disse em público que não vai cumprir "ordens absurdas" de tribunais, promessa logo sublinhada pela lembrança de que é "chefe" das Forças Armadas. O novo surto pode ter sido detonado porque o Supremo reafirmou a cassação do ex-deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil do Paraná), que perdeu o mandato por "fake news" de fraude na eleição de 2018.

Não seria a estratégia de criar o tumulto de costume, com ameaças ao STF etc.? As pessoas ouvidas pelo jornalista desconversam um tanto. Dizem que a "preocupação" de Bolsonaro é "real" e "legítima".

Mais uma vez agora, como em 2020 ou, em particular, no 7 de Setembro de 2021, aliados no Congresso, os regentes do centrão e turma, disseram a Bolsonaro para baixar o tom. Se por mais não fosse, a fúria tira votos, indicam pesquisas qualitativas. A disseminação da ideia de que está com medo de perder e que se debate de maneira desesperada ou eleitoreira pode ser igualmente ruim, dizem.

Pesquisas qualitativas de meados de maio, encomendadas por partidos fora do governo, sugeriam que o jeito violento e "mal-educado" de Bolsonaro cai mal em particular entre mulheres, pobres e não-brancos. Cai mal também o fato de Bolsonaro se divertir com motos e jet-skis e tanta gente estar na miséria.

Um dos aliados de Bolsonaro diz que o governo tem pesquisas qualitativas que "vão um pouco nessa linha". Mais especificamente, os entrevistados não gostam de ouvir tantas falações que tratem de fraude eleitoral, Supremo e que critiquem tanta gente, em vez de se ocupar das dificuldades dos pobres e do futuro do país.

Urna, Supremo, é "discurso para convertido", diz o parlamentar que tenta colocar panos quentes. Em tempos mais calmos, conta, Bolsonaro parece "humilde", ouve o que dizem e "até fica emocionado" (chora e dá abraços). De um dia para outro, parece que "fica tomado por uma coisa ruim".

O parlamentar acha que os filhos (com a possível exceção de Flávio), generais palacianos e "seguidores" "botam pilha" em Bolsonaro. De qualquer modo, diz que Bolsonaro é imprevisível e aparece com decisões que surpreendem até o círculo político mais próximo, que não sabe bem de onde saem tais atitudes (citam nomeações importantes e decisões sobre a Petrobras, por exemplo).

Como era de esperar, os dois informantes dizem que não há hipótese de golpe, tentativa de melar eleição ou criar tumulto de rua, embora o governo queira fazer uma grande manifestação no 7 de Setembro de 2022. Bolsonaro estaria apenas indignado com "excessos", o que exprime de modo "pouco adequado". Seria um homem muito "tenso", "angustiado" e "inconformado" com o "azar" que seu governo enfrentou (epidemia, guerra) e atormentado pela ideia de traição e de ser desautorizado.

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