Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Com ministério pronto, Lula monta base no Congresso, mas ainda faltam votos

Políticas a que Lula vai dar de fato prioridade, quem vai tocar esses barcos e se são capazes de fazê-lo são as próximas definições

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Luiz Inácio Lula da Silva deu nove ministérios, ou praticamente isso, para MDB, PSD e União Brasil. Juntos, esses partidos terão 143 deputados federais a partir do ano que vem.

Como era de esperar, o núcleo da base bolsonarista, PL, PP e Republicanos, não levou nada —até agora. Juntos, têm 187 deputados. Em uma conta simples, a coalizão de apoio a Lula 3 tem 283 deputados.

Não se adquire apoio de partido com porteira fechada, em bloco, como se sabe. Haverá recalcitrantes no centrão luliano. Haverá quem vote com o governo mesmo em partidos como o PL, casamento da extrema direita com a fisiologia mais crua, assim como no PP e no Republicanos. A negociação, de resto, não acabou.

Imagem mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cercado pelos integrantes do seu futuro governo. As mulheres estão próximas dele. Lula é um homem branco, grisalho, de barba. Veste um terno cinza
Lula anuncia os últimos nomes de ministros que compõem o primeiro escalão do governo - Pedro Ladeira/Folhapress

Há cargos para distribuir, alguns até para agraciar uma liderança mais graúda dos partidos bolsonaristas. Haverá acertos para a divisão de postos de poder no Congresso. Há vagas em diretorias, superintendências e outros feudos menores. Há mais trabalho a fazer para obter apoios, por meio de partilha de poder e dinheiros.

Além do trio bolsonarista, há um bloquinho de oposição, partidos miúdos à direita, que contam votos que podem faltar em ocasião importante. É o caso da federação PSDB-Cidadania, do Novo e dos ajuntamentos Podemos-PSC e Patriota-PTB. Somam 43 deputados.

No entanto, nem esse quadro partidário está estabilizado. A formação do governo, a recomposição de poder no Congresso ou as eleições para os comandos de Câmara e Senado, tudo isso pode resultar em apoios novos, defecções e, quem sabe, em até alguma nova fusão partidária.

Logo, a formação da base de apoio do governo no Congresso continua. Obviamente, essa geleia sempre se move, a depender de dinheiros, dos assuntos cruciais em discussão e do prestígio do presidente da República. Mas o primeiro movimento dessa ópera não acabou.

O ministério pode vir a ajudar. Lula nomeou muito político experiente. Governadores, além do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, são um quarto da equipe. Há ex-ministros e parlamentares com algum calejamento. Note-se, de passagem, que é um gabinete com peso grande de Norte-Nordeste.

Em termos político-partidários, é um time razoável para começar o campeonato da negociação. Em termos de coalizão social, de uma "frente ampla" de fato, bem menos.

De "frente ampla", além dos ministros da barganha política com o Congresso", não há muito mais do que Geraldo Alckmin, que já estava na conta, e Simone Tebet. A ver se o "centro" da sociedade (na prática, as elites civilizadas) vai se sentir representado de algum modo. Parece que não, até por causa do sururu econômico da transição.

Além dos petistas (é um governo liderado pelo PT, certo?), de companheiros de viagem históricos e de partidos vagamente de esquerda (PDT e PSB, por exemplo), Lula colocou no ministério gente representativa de movimentos sociais (é um governo de esquerda, certo?).

Agora, é preciso ver como vai se montar a máquina, os secretários que realmente operam, técnica e politicamente, os ministérios e agências relevantes de governo. É uma escalação em geral menos rumorosa ou simbólica; é então que se definem grupos que podem planejar políticas ou torná-las operacionais. É a partir daí que se pode vislumbrar um pouco do funcionamento real do governo.

São as próximas definições: quais são as políticas a que Lula vai dar de fato prioridade, quem vai tocar esses barcos e se são capazes de fazê-lo. Na política, falta ver como o governo ainda pretende neutralizar o perigo potencial do blocão bolsonarista. Além de grande no Congresso, esse grupo de partidos tem como base um eleitorado extenso de direita ou extrema direita ideológicos.

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