Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Torres Freire

Senado quer limitar carga de imposto sobre consumo, mas Congresso libera gasto

Prévia do texto da mudança nos impostos amplia favores para empresas e dificulta gestão das contas públicas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Na versão do Senado para a Reforma Tributária, há um limite para a carga de impostos sobre o consumo de bens e serviços. Não é boa ideia, piorada ainda pelo cálculo desse teto de impostos, baseado na média de receita de 2012 a 2021.

Nesses anos, houve quedas na arrecadação por causa de anos de recessões medonhas (2015, 2016, 2020) e crescimento pífio do PIB. O cálculo prejudica em particular o governo federal.

Não é o único e talvez não venha a ser nem o maior problema da reforma do Senado. Mas é novidade ruim. De ruindades velhas ampliadas, temos mais regimes especiais. Quer dizer, redução de alíquota de impostos para certo tipo de empresa ou setor, o que eleva a alíquota do imposto médio geral. Por exemplo, benefícios para empresas ricas de advogados, médicos e outros profissionais. Qual o motivo da distinção?

O senador Eduardo Braga (MDB-AM), relator da Reforma Tributária no Senado
O senador Eduardo Braga (MDB-AM), relator da Reforma Tributária no Senado - Geraldo Magela/Agência Senado

Até esta quarta-feira (25), havia 693 emendas à reforma da Câmara. Muitas não foram aceitas no relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM). Mas o jogo ainda está rolando. A coisa pode ficar pior, com mais favores.

Talvez alguém considere boa ideia impor um teto da carga sobre o consumo. Pode ser, desde que, para compensar, seja viável aumentar a arrecadação de outros impostos, em particular sobre renda.

Se assim não for, a receita total dos governos pode ser insuficiente. Haveria ainda mais déficit. O problema seria contido se houver um teto de gastos. Hum.

Quase ninguém quer um teto de gastos. Deu-se cabo do teto de Michel Temer, de fato inviável. Luiz Inácio Lula da Silva aprovou no Congresso o teto móvel do dito "arcabouço fiscal", mas é incerto quando a carga de gastos (em relação ao PIB) vai cair, o que depende de anos de bom crescimento econômico.

A maioria do Congresso não quer aumento de outros impostos. Quando pode, aumenta despesas ou reduz a receita do governo, como o está fazendo por estes dias e na própria reforma (com o aumento do Fundo Regional de Desenvolvimento, na conta federal).

O limite de impostos federais que serão fundidos na CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) seria de 5% do PIB (meio ponto percentual abaixo da média de 2010-2014). Trata-se da média da carga de PIS/Pasep, Cofins e IPI de 2012 a 2021, como prevê o relatório do Senado. Nessa conta falta o imposto seletivo (sobre bens daninhos), do qual nada se sabe.

A carga do novo imposto estadual e municipal sobre bens e serviços, IBS, seria de 7,74% do PIB (média do ICMS e do ISS). No total, 12,74% do PIB, pois. Essa aritmética é baseada na estimativa de carga tributária da Secretaria do Tesouro Nacional.

Um objetivo da Reforma Tributária é que ela seja neutra. Isto é, que não redunde de início em aumento da carga de impostos. Tudo bem. Em termos.

Mas é preciso fazer um cálculo razoável desse limite inicial da carga tributária sobre consumo. Depois, a carga pode aumentar ou diminuir, a depender dos ritmos dos diversos setores da economia. Eventuais ajustes devem ser feitos por governo e Congresso, de acordo com o contexto. Engessar o futuro é má ideia. De resto, dado o limite geral, se a carga federal de impostos sobre consumo aumentar, a de estados e cidades vai ter de cair (ou vice-versa)?

O problema não vai aparecer logo. A primeira medida de carga ocorreria em 2027 e 2028; o ajuste começaria em 2030. Parece distante, mas assuntos como tributação ficam parados por décadas. Por falar nisso, o tempo de implementação da reforma é ainda desesperadoramente longo.

De resto, as limitações de impostos sobre consumo vão influenciar também a receita a ser projetada na reforma do imposto de renda —ao menos esperamos que venha tal mudança em um tipo de tributação especialmente iníquo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.