Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Sobrou para Lula fazer plano para petróleo, floresta, eletricidade e fim do mundo

Sem saber para onde ir, país torra dinheiro petrolífero, destrói ambiente e futuro

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Luiz Inácio Lula da Silva prometeu reconstruir a BR-319, estrada que liga Manaus a Porto Velho (Rondônia), como se sabe. Fez a promessa no Amazonas, no auge do ruído midiático sobre o incêndio do Brasil. Convém voltar ao assunto.

O caso é uma caricatura de dilemas brasileiros e do governo Lula. É um exemplo da falta de planos do que fazer quanto a energia, investimento, ambiente e até das contas públicas. Vai dar besteira.

O que fazer de petróleo e de sua renda enorme e crescente? De rodovias e ferrovias na floresta? Como gerar mais eletricidade em horário de pico sem mais dano ambiental?

A imagem mostra um homem de cabelo grisalho e barba, vestindo um terno escuro, com uma expressão séria. Ao fundo, há uma pessoa com um cocar indígena, que observa atentamente. O fundo é colorido, com tons de vermelho e amarelo, sugerindo um ambiente de evento.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia que devolveu manto tupinambá ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro - Claudia Martini/Xinhua

Fora da Amazônia e dos círculos de ambientalistas e cientistas, pouca bola se deu para a BR-319. Manaus não tem conexão rodoviária com o restante do país, entre outros isolamentos dessa região metropolitana com 2,6 milhões de habitantes. A reconstrução da BR-319 está emperrada desde 2005 por embates judiciais e administrativos.

Seus defensores dizem que será obra com sistemas de segurança ambiental inédita, além de ser estrada cercada, com travessias aéreas e subterrâneas para animais e controle de quem e do que vai passar por lá. Etc. Para críticos, a rodovia vai facilitar a destruição. Por onde passam, estradas de fato reduzem o custo de empreendimentos (legais ou ilegais).

O dilema é piorado pela expansão dos crimes organizados, pela dificuldade estatal de combater a destruição da floresta e a conexão amazônica de negócios legais e ilegais, pelo fato do plano de desenvolvimento local (Zona Franca) ser erro econômico enorme quase incorrigível.

É apenas um dilema. A exploração do petróleo no mar do Amapá, mesmo que não derrame gota de óleo, criará incentivos para a ocupação desordenada e destruição ambiental do estado (a história da urbanização brasileira).

Quão essencial é o petróleo? Em 2014, o país produzia 2,3 milhões de barris por dia. Em 2024, deve produzir 3,5 milhões. Em uma conta de guardanapo, pelo preço atual do barril, a renda petroleira passou de US$ 58,8 bilhões por ano para US$ 91,4 bilhões, sem contar efeitos indiretos.

A renda nacional aumentou com isso, assim como a receita do governo. Nesses anos, a taxa de investimento produtivo do país não aumentou. O setor público tem déficit. Estamos queimando receita petrolífera finita em gasto corrente.

Segundo a Empresa de Planejamento Energético (estatal), a produção para de crescer em 2030, em 5,3 milhões de barris por dia. O que fazer? Explorar mais? Menos? Há alternativas?

No caso da eletricidade, vamos precisar de mais térmicas a gás (da exploração petrolífera) para atender ao consumo do horário de pico, para a qual a solar não dá conta? De Angra 3 ou Nuclear "x"? Como revolucionar produção e consumo de energia? Secas mortíferas, cada vez mais prováveis, podem parar as hidrelétricas.

Precisamos da Ferrogrão (ferrovia que vai da soja do Mato Grosso a porto no Pará, mais rasgo na Amazônia)? No caso de restrições ou alternativas ao consumo mundial de grãos e carnes, como o país vai pagar as contas externas?

De onde vai sair o dinheiro para proteger a Amazônia (polícia, servidores ambientais, investimento produtivo) e para zerar desmatamentos? Do petróleo? Mas já não estamos gastando todo o dinheiro petrolífero em outra coisa?

Não temos plano, até aqui. Sobrou para Lula fazer.

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