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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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As (difíceis) viradas de segundo turno

Em 9 das 57 cidades onde haverá votação no domingo (29), chance de virada é menor que 10%

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Guilherme Russo

Doutor em ciência política pela Universidade Vanderbilt e pesquisador do FGV Cepesp

George Avelino

Professor, doutor em ciência política pela Universidade de Stanford (EUA) e coordenador do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas-SP (FGV Cepesp)

Jairo Pimentel

Doutor em ciência política pela USP e pesquisador do FGV Cepesp

Eleitores de 57 das 95 cidades com mais de 200 mil eleitores retornarão às urnas neste domingo (29) para escolher seus prefeitos. Diferentemente do que afirmam alguns analistas políticos e candidatos que estão atrás na corrida, o segundo turno não é “uma nova eleição”. Desde 1998, 75,5% das 208 eleições municipais de segundo turno no Brasil foram vencidas por quem terminou o primeiro turno à frente, um resultado similar às 74 eleições de segundo turno para governador.

Por que as viradas —vitórias do segundo colocado no primeiro turno— são improváveis? Primeiro, eleitores dos candidatos que disputam o segundo turno não mudam seus votos entre um turno e outro. Segundo, a abstenção tende a ser um pouco maior no segundo turno, reduzindo o número de eleitores disponíveis para a virada. Terceiro, os resultados do primeiro turno importam. Quanto maior a soma de votos dos candidatos que avançaram e maior a distância de votos entre eles no primeiro turno, mais difícil se torna a virada. Por exemplo, se o primeiro colocado teve 40% dos votos e o segundo 30%, embora a diferença seja de apenas 10%, a virada só ocorre se o segundo conseguir mais de 20% dos 30% de eleitores que não votaram em nenhum dos dois no primeiro turno.

Portanto, nem todas as eleições de segundo turno são iguais. Há corridas em que o candidato com mais votos no primeiro turno chega perto dos 50% de votos válidos necessários para uma vitória direta, como em Pelotas (RS), onde a candidata líder teve 49,7%. Outras vezes o mais votado recebe um percentual baixo, como em João Pessoa, onde o líder teve 20,7%.

A distância de votos no primeiro turno entre os concorrentes também é chave. Em Vitória da Conquista (BA), o mais votado teve 47,6% dos votos, mas o segundo teve 45,9%, o que é um cenário bem diferente de Boa Vista, onde o primeiro turno terminou em 49,6% contra 10,6%.

Baseado nas eleições passadas e nos percentuais de votos no primeiro turno desta eleição, geramos uma probabilidade de virada para cada disputa. Em Pelotas e Boa Vista, a probabilidade de virada é de apenas 3%. Já em Vitória da Conquista, onde a diferença de votos entre os candidatos foi bem menor, a probabilidade já é de 29,7%. Nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, onde os líderes não chegaram a 40% dos votos, mas conseguiram uma vantagem considerável sobre seus adversários, as probabilidades são de 25% e 19,1% respectivamente.

Em 9 das 57 eleições, nossa análise indica que a probabilidade de virada é menor que 10%. Nesses casos, o líder do primeiro turno teve mais de 40% dos votos e uma distância maior que 20 pontos para o segundo colocado. Se um candidato tem essa vantagem na eleição presidencial argentina, nem há segundo turno. Lá, é declarado vencedor quem tenha 45% dos votos válidos ou 40% com diferença de 10 pontos para seu adversário.

Não obstante, outras disputas se mostram bem acirradas neste ano. A probabilidade de virada em Manaus, onde a primeira votação resultou em 23,9% contra 22,4%, é de 51,1%, cenário parecido com João Pessoa e Recife, onde as disputas são quase um cara ou coroa.

Cabe salientar, no entanto, que os candidatos de cada corrida também não são iguais. Como a disputa no segundo turno é decidida pelos eleitores de candidatos já derrotados, o melhor cenário é concorrer contra um candidato rejeitado por esse grupo. Assim, a inclusão de variáveis como o histórico e ideologia dos candidatos deve melhorar a previsão, provavelmente indicando mais chances de viradas para os candidatos situados no centro ideológico, mas isso demandaria outro artigo.

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