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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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Descrição de chapéu Congresso Nacional

A dança da solidão

Fim das coligações pode ter efeitos consideráveis na composição da Câmara

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George Avelino

É doutor em Ciência Política pela Stanford University, professor da FGV e coordenador do FGV Cepesp

Gabriel Goldfajn

Mestrando em Administração Pública e Governo da FGV/Eaesp e pesquisador do Cepesp

A despeito da expectativa de que a renovação na Câmara de Deputados fique abaixo da média histórica de 50%, uma das grandes reformas eleitorais recentes, o fim das coligações para as eleições legislativas, pode complicar essas previsões. Ao impedir a reprodução das alianças entre partidos que levaram àquela casa boa parte de seus membros nas eleições de 2018, tal mudança aumentou a incerteza eleitoral dos candidatos e pode ter efeitos consideráveis sobre a composição da Câmara a ser eleita neste domingo.

O problema atinge particularmente os 160 deputados que foram os únicos eleitos por seus partidos nos respectivos estados e agora terão de depender prioritariamente de seus esforços na busca pela reeleição.

Câmara dos Deputados, em Brasília
Câmara dos Deputados, em Brasília - Antônio Molina - 21.dez.21/Folhapress

Claramente, a incerteza será inversa à quantidade de votos obtida em 2018. Por exemplo, embora todos os nove deputados federais de Alagoas tenham sido eleitos por coligações partidárias, cada um representou um partido diferente.

Dentre esses, apenas um, João Henrique Caldas (PSB), ex-prefeito de Maceió, teve votos suficientes para atingir o quociente eleitoral, o que lhe garantiria a reeleição independentemente do desempenho dos outros candidatos de seu partido; outros dois, Arthur Lira (PP) e Max Beltrão (PSD), tiveram votação superior a 80% do quociente, hoje suficiente para pleitear uma vaga na divisão pelas "sobras", como são chamadas as vagas distribuídas após a primeira distribuição entre os partidos que atingiram o quociente.

Os outros seis deputados, com votações inferiores e pouca ajuda dos outros candidatos de seus partidos, enfrentarão condições bem mais adversas sem as coligações.

A tabela abaixo dá um quadro mais amplo ao tomar por base os 513 deputados eleitos em 2018 e as bancadas partidárias após as últimas trocas de partido. A primeira coluna especifica o número de candidatos à reeleição nos quinze maiores partidos e nas siglas menores, agrupados em "outros partidos".

A segunda mostra o número de únicos eleitos em busca da reeleição por partido. Finalmente, a terceira coluna lista o percentual de únicos eleitos dentre os candidatos à reeleição indicando, portanto, as dificuldades dos partidos para manterem as suas bancadas.

Partido Reeleição Todos Reeleição Únicos Eleitos % Únicos Eleitos
PL 71 21 29,58
PT 51 14 27,45
União Brasil 42 14 33,33
Progressistas 38 16 42,11
PSD 38 19 50
Republicanos 37 17 45,95
MDB 32 11 34,38
PSB 18 9 50
PSDB 17 4 23,53
PDT 16 4 25
Podemos 7 4 57,14
Solidariedade 6 5 83,33
Psol 6 1 16,67
PTB 2 1 50
Outros partidos 44 20 45,45
Total 425 160 37,65

Fontes: CEPESPDATA (cepespdata.io) e TSE

Como se pode perceber, o número de únicos eleitos por seus partidos que estão se recandidatando em 2022 representa quase 40% do total. Esse percentual ajuda a entender a aprovação do aumento cavalar no financiamento público para as eleições deste ano como forma de reduzir a incerteza.

Partidos que representam ideologias diferentes, como PSD e PSB, devem enfrentar dificuldades semelhantes para manter as suas bancadas. Mas existem diferenças nos percentuais que vão desde os 16,67% da bancada do PSOL aos mais de 80% do Solidariedade.

Deputados em busca de reeleição, pela experiência vitoriosa anterior, estão entre os candidatos mais competitivos que um partido pode apresentar. Portanto, a tabela também dá algumas pistas sobre os partidos com mais chances de sobreviver, pois o acesso aos fundos públicos para as eleições de 2024 e 2026 vai depender do tamanho das bancadas eleitas neste domingo.

O caso dos "outros partidos" é menos grave, pois 17 dos 20 únicos eleitos que se recandidataram pertencem a partidos que formaram federações —associação pelos próximos quatro anos— para evitar o isolamento, tal como fizeram Rede, PCdoB, PV e Cidadania. Em direção contrária, partidos como o Solidariedade, o Podemos, e mesmo o tradicional PTB devem ter dificuldades em manter suas bancadas devido à dança da solidão desempenhada por seus candidatos com maior potencial de votos.

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