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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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O segundo turno não é uma nova eleição

Desde 1988, em 287 eleições, 75,5% dos primeiros colocados conseguiram se eleger

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George Avelino

Doutor em ciência política (Stanford University), é professor da FGV e coordenador do FGV-Cepesp (Fundação Getulio Vargas – Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público)

Guilherme Russo

É doutor em Ciência Política pela Vanderbilt University, Diretor de Inteligência da Quaest e pesquisador no FGV Cepesp

Jairo Pimentel

É Doutor em Ciência Política (USP) e pesquisador filiado ao FGV Cepesp

Neste domingo (30), os eleitores retornam às urnas para decidir quem vai ser eleito presidente e, em 12 estados, para eleger seus governadores. A despeito do que afirmam candidatos derrotados no primeiro turno e alguns analistas, uma eleição de segundo turno não é uma "nova" eleição.

Desde 1988, quando foram introduzidas as eleições de segundo turno no Brasil, 75,5% das 287 eleições de segundo turno a presidente, governador e prefeito foram vencidas por quem terminou o primeiro turno à frente. Mas quanto os resultados do primeiro turno importam? E, talvez mais importante, em quais eleições?

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Fila para votação em escola de São Paulo - Jacques Constantino - 2.out.22/Folhapress

Usando os dados destes 287 pleitos e de outras 128 eleições de presidente mundo afora, geramos um modelo para estimar qual é essa relação e, com base nele, usamos os resultados do primeiro turno para estimar as probabilidades de vitória em cada uma das disputas de segundo turno deste ano —publicadas nesta Folha em 13 de outubro.

Como o modelo depende só da votação no primeiro turno, já na noite da eleição, o modelo indicava, por exemplo, que Bolsonaro (segundo colocado) tinha 27% de chances de virar a disputa. Observando outro caso, Raquel Lyra (segunda colocada) tinha 47% de chances de virar a eleição para o governo de Pernambuco.

Soma dos
votos dos
dois primeiros
colocados (em %) 1º turno
Diferença
(em pontos
percentuais)
Probabilidade
de vitória
do/a líder

1º turno
Previsão de
voto no
líder (em %)

2º turno
Brasil (Presidência) 91,63 5,23 77 52,4
Alagoas 73,43 19,85 90 58,5
Amazonas 63,81 21,83 90 59,4
Santa Catarina 56,03 21,19 87 59,1
Bahia 90,25 8,65 81 53,8
Espírito Santo 85,42 8,46 80 53,7
Mato Grosso do Sul 51,87 1,55 52 51,0
Paraíba 63,55 15,75 83 56,8
Pernambuco 44,37 3,21 52 51,7
Rondônia 75,93 1,83 64 51,0
Rio Grande do Sul 64,31 10,69 76 54,7
Sergipe 83,61 5,79 75 52,6
São Paulo 78,02 6,62 74 53,0

Por que a diferença? Os dados nos mostram que quanto maior o percentual da soma de votos válidos dos dois primeiros candidatos e maior a distância de votos entre eles no primeiro turno, mais improvável a derrota do candidato que terminou à frente. A probabilidade é uma combinação desses fatores.

Por exemplo, se o primeiro colocado teve 48% dos votos e o segundo 43% (como no caso da Presidência), embora a diferença seja de apenas cinco pontos, a derrota só ocorre se o segundo conseguir mais de sete pontos percentuais desses 9% de eleitores que não votaram em nenhum dos dois no primeiro turno, ou seja, para virar a eleição, o segundo candidato precisa de aproximadamente 80 a cada 100 votos de quem votou nos outros candidatos perdedores.

Já numa eleição que a primeira colocada teve 25% dos votos e a segunda colocada teve 20% (como no caso do governo de Pernambuco), a diferença também é de 5 pontos, mas a segunda colocada precisa de aproximadamente 55 a cada 100 votos de quem votou nos outros candidatos para virar a eleição.

Esse cálculo simples tende a funcionar por dois aspectos relevantes: os eleitores dos candidatos que disputam o segundo turno dificilmente mudam seus votos, e a alienação eleitoral (a soma da abstenção, brancos e nulos) tende a ser semelhante à do primeiro turno, o que indica a dificuldade que os candidatos têm em atrair "novos" eleitores para a votação final. Porém, é sempre importante lembrar que nem todas as votações são iguais. Em alguns casos, a abstenção eleitoral pode cair, como foi o caso de 3 das 57 eleições a prefeito em 2020, justamente em eleições que o modelo estimava mais apertadas.

Além disso, como a disputa no segundo turno é decidida pelos eleitores dos candidatos já derrotados, o melhor cenário é concorrer contra um candidato mais rejeitado por aqueles eleitores. A inclusão de variáveis como o histórico e a ideologia dos candidatos deve melhorar nossas previsões, provavelmente aumentando as chances dos candidatos do centro ideológico.

Em 2018, os resultados do modelo tiveram desempenho semelhante aos das pesquisas de opinião publicadas nos dias anteriores à eleição —sempre lembrando que pesquisas de opinião devem ser vistas como avaliação do momento, e não prognóstico. Dito isso, o modelo pode ser usado como fonte de informação adicional às pesquisas. A decisão final caberá sempre às eleitoras e eleitores.

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