LUIZA FECAROTTA
CRÍTICA DA FOLHA

Paul Bocuse ia todas as manhãs ao mercado comprar pessoalmente os produtos que ia usar no preparo do almoço —para o qual achava essencial sempre deixar uma "pequena margem de improviso" (como narra no livro "A Cozinha de Paul Bocuse"), para o qual estava sempre disposto a "correr alguns riscos".

Sua cozinha, pois, juntava o "antigo e o novo", preservava respeitosamente o sabor próprio dos ingredientes e as estações —não se conformava que as pessoas queriam comer "aspargos do natal, morangos no ano-novo, caça na páscoa".

Foi um sujeito sempre atento às experiências dos outros, que deviam servir aos demais, dizia. Uma ida sua à China, por exemplo, lhe fez notar sua capacidade de cozinhar muito bem os legumes, "durante pouco tempo".

Houve uma simplificação no preparo dos pratos —menos molhos, receitas menos complexas e menos substanciosas— que "repercute igualmente o tempo de cozimento".

"A grande cozinha não é sinônimo de cozinha complicada; a grande cozinha pode ser um peru cozido em água e sal, uma salada colhida da horta e temperada um pouco antes de ir para a mesa", escreveu. E dizia, que beleza, que "a cozinha é mais fácil e bem melhor quando feita para as pessoas que amamos".

Para ele, aliás, bastava fazer um prato bem-feito para deixar os convidados satisfeitos —não era preciso uma sucessão de etapas em uma só refeição. "Deveríamos sair da mesa sentindo ainda um pouco de fome."

E, para os cozinheiros amadores, reforçava a importância de fazer um menu que os permitisse estar à mesa com os convidados, na hora de comer —e não que lhes deixassem estressados. "Aprenda a preparar dois ou três pratos realmente bem, como um suflê de queijo inesquecível ou um gratinado de batatas admirável. Se, além disso, souberem preparar uma ave ao creme de leite ou assar um pernil de carneiro, a partida está ganha".

E, bem, Bocuse realizou seu sonho de comprar uma casa e construir uma cozinha à sua maneira. "Instalarei nela o meu fogão", dizia ele, "uma bela mesa de madeira, e, se ainda tiver saúde e estímulo, prepararei todos os dias quatro ou cinco pratos e servirei a cozinha de Bocuse (...). Será, pois, por prazer e amizade que levarei essa tarefa a cabo. Um de nossos filósofos disse que a mesa era um altar que devia ser paramentado para celebrar o culto da amizade."

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.