Virado à paulista é tombado e se torna 'patrimônio imaterial'

Prato leva ingredientes como feijão, farinha, carne-seca, bisteca e torresmo

Guilherme Seto
São Paulo
O virado à paulista leva feijão, ovo, couve e linguiça
O virado à paulista leva feijão, ovo, couve e linguiça - Rivaldo Gomes/Folhapress

Em 17 de agosto de 1822, Dom Pedro 1º, já em seu caminho para as margens do Ipiranga, teria se abastecido de um virado para ter energia e dar seu grito, de acordo com a historiografia.

O prato apreciado pelos paulistas e tradicional às segundas-feiras transformou-se agora em um patrimônio imaterial do Estado.

O virado à paulista foi tombado pelo Condephaat, conselho de patrimônio estadual, que reconheceu sua significância histórica e cultural.

Feijão, farinha de milho, carne-seca, arroz, bisteca, torresmo, couve, ovo frito, banana empanada e linguiça são os ingredientes básicos da receita tombada pelo órgão.

O prato tem raízes no século 16, tendo sido usado como alimentação dos bandeirantes. Feito originalmente de farinha e toucinho de porco, foi agregando os demais elementos ao longo dos anos, tecendo assim composição que inclui influências portuguesas, indígenas, italianas.

E também africanas, como nos casos do arroz (cuja cocção é herdada da África) e da banana, cuja incorporação em pratos salgados seria típica desse continente, explica em seu parecer Wagner de Melo Romão, que é conselheiro do Condephaat.

'PLAQUINHA'

Para que o tombamento do virado seja oficializado só falta a homologação do secretário estadual de Cultura, José Penna questão meramente burocrática, já que ele mesmo se declara abertamente favorável à homenagem.

O prato agrega séculos de encontros de culturas, de tradições, de conhecimento e de prazer sensorial, afirma Penna.

O tombamento tem como efeito o reconhecimento do valor cultural da receita. Para efeitos práticos, o sujeito poderá colocar a plaquinha aqui se serve o verdadeiro virado à paulista do Condephaat, caso siga a receita do tombamento, brinca Carlos Faggin, presidente do órgão.

USO POLÍTICO

Voz destoante em relação à empolgação dos envolvidos, o sociólogo especializado em gastronomia Carlos Alberto Dória vê o tombamento como inócuo e com objetivos políticos.

"Existe um certo oportunismo, já que são bens vigentes, não estão ameaçados. São correntes e fazem parte da vida das pessoas", afirma.

"O Condephaat e outros órgãos promovem esses tombamentos de pratos e danças porque assim produzem uma realidade simbólica e o Estado pode tirar proveito dela", conclui o sociólogo.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.