A família se divertia, dando risada de algo que Neli tinha dito. "Eu não sou palhaça de ninguém", ela falava, fazendo mais graça ainda.
Essa era apenas uma das ironias leves que acabaram virando bordões ao longo dos anos. "Não é para comer tudo não", era outra, utilizada nas feijoadas e macarronadas que promovia, bem como o "tá dito e falado", para pontuar sentenças.
Mineira de Formiga, quando menina foi proibida pela mãe de ir a uma festa junina. O pai cúmplice liberou-a para ir escondida, e ela voltou com uma queimadura na perna, ganha ao pular fogueira na quadrilha. Escondeu por dias, mas, quando descoberta, gerou uma crise "diplomática".
Aos 23, saiu de uma sessão de "Jeca Tatu" para comprar pipoca e recebeu o galanteio de um rapaz, que ofereceu o lanchinho para a moça. Era José Nelson, dez dias mais novo. Ficaram juntos desde então.
Viveu em diversas cidades do interior mineiro, acompanhando o marido, construtor de estradas. Só há 30 anos se estabeleceriam na capital, onde ela ajudaria a tocar o restaurante da família, no Gutierrez.
Os clientes que estivessem prestes a ter filhos ganhavam sapatinhos de tricô para o bebê. O mesmo acontecia com todos os amigos e familiares que se tornavam pais.
Até mesmo Caetano Veloso ganhou os seus, por ocasião do nascimento de seu filho Zeca, em 1992. Neli era a "musa dos sapatinhos", como a apelidou o primogênito, Jovino.
Morreu no dia 20, aos 79, após três anos convivendo com um câncer. Deixa o marido, José Nelson, os filhos Jovino, Anelise, André, Otávio e Rodrigo, e quatro netos.
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