Descrição de chapéu Obituário Agripino de Oliveira Lima Filho (1931 - 2018)

Mortes: Prefeito adversário dos sem-terra no interior do SP

Foi deputado Constituinte e prefeito de Presidente Prudente por três mandatos

Luís Fernando Manzoli
São Paulo

Em 1997, Agripino de Oliveira Lima Filho quase foi candidato a governador pelo então PFL. Acabou vencido pela ala do partido que queria apoiar Paulo Maluf, então no PPB. No ano seguinte, os dois se encontraram em um jantar na casa de Maluf, em São Paulo. Os ânimos se exaltaram.

“Soube que você andou me batendo muito nos palanques”, disse Maluf. Uma breve discussão se seguiu, com vozes exaltadas e dedos apontados.

Agripino de Oliveira Lima, então prefeito de Presidente Prudente (SP), lidera bloqueio da rodovia Assis Chateaubriand, com o objetivo de impedir que membros do MST entrassem na cidade
Agripino Lima, então prefeito de Presidente Prudente (SP), lidera bloqueio da rodovia Assis Chateaubriand, com o objetivo de impedir que membros do MST entrassem na cidade - João Wainer - 29.out.2002/Folhapress

Vendo que Agripino estava ficando vermelho, Maluf recuou: “Sou três dias mais velho do que você. Me respeite...” Agripino também cedeu e brincou: “Se eu tivesse ganhado (a candidatura), tava te batendo até hoje”.

O comportamento explosivo era justamente a maior marca do homem nascido em Lençóis Paulista, mas que fez sua vida em Presidente Prudente —foi prefeito da cidade por três mandatos, além de ex-deputado federal e estadual.

Em 2002, usou máquinas da prefeitura e convocou servidores públicos para bloquear uma rodovia e impedir que uma marcha do MST (Movimento Sem-Terra) chegasse à cidade.

Nessa época, auge do conflito agrário no oeste paulista, comprou briga até com o bispo, que dizia que a igreja estava sempre aberta para os sem-terra.

Protagonizou brigas com a família —que se tornaram públicas— pelo controle da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), que fundou nos anos 70 e da qual era chanceler.

O jeitão de coronel atraiu muitos amigos e inimigos. Foi alvo de uma série de ações, de enriquecimento ilícito a fraudes fiscais e lavagem de dinheiro. Nunca foi condenado. Em Presidente Prudente, até hoje desperta amor e ódio. Muito religioso, tinha como uma das marcas o crucifixo dourado no peito, sustentado pelas largas correntes no pescoço. Construiu, atendendo como dizia a um pedido divino, o Santuário Morada de Deus —o local tem a via-crúcis com estátuas em tamanho real e se tornou ponto de peregrinação para católicos.

Agripino morreu nesta quarta-feira (7), no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde estava internado desde janeiro, quando fez uma cirurgia para tratar um câncer no estômago. Seu velório será hoje, aberto ao público, em seu santuário. Deixa quatro filhos, 13 netos e quatro bisnetos.

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