José Macêdo chegou a Brasília antes de sua inauguração. Em 1958, dois anos antes da capital federal estrear, o baiano gravava canetas vendidas por um amigo no Núcleo Bandeirante, primeira ocupação no território.
Ele aprendera a técnica numa relojoaria em São Paulo, uma das cidades em que viveu desde quando deixou Euclydes da Cunha (BA) aos 15 anos. A letra bonita logo garantiu clientes --ainda no Sudeste, nos anos 50, gravou todas as medalhas de uma prova da Maratona de São Silvestre.
Em Brasília, terra das oficialidades, logo conquistou o filão das inscrições em placas, bandejas e relógios. Tornou-se o primeiro gravador calígrafo de Brasília, título quase tão pomposo quanto os daqueles que homenageava.
Afinal, do gravador de Macêdo saíram reverências para a rainha Elizabeth, papa João Paulo 2º e Charles de Gaulle.
Com demanda fixa de embaixadas e órgãos públicos, nunca faltava trabalho em sua bancada na rua da Igrejinha.
Aos interlocutores, soava como um cicerone da vida social da cidade. Dizia acompanhar Luiz Gonzaga na cerveja durante os finais de tarde, quando o sanfoneiro estava na cidade; que testemunhou Pipoka e Oscar Schmidt se exercitando em clubes, quando ainda aspiravam ser jogadores de basquete profissionais; e, mais importante, que cumprimentara Juscelino Kubitschek três vezes.
"Lavava as mãos só no dia seguinte, para ficar com cheiro do [perfume] Bond Street que ele usava", disse certa vez.
Morreu no dia 31, aos 85, de complicações de câncer na bexiga. Deixa mulher, seis filhos, cinco netos e uma bisneta.
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