Descrição de chapéu Dias Melhores

Após incêndio, igreja fica lotada de doações e precisa fechar as portas no centro de SP

Templo no Largo do Paissandu virou centro de captação de alimentos para vítimas de desabamento

Thiago Amâncio
São Paulo

A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, precisou fechar as portas na manhã desta quarta-feira (2). Não havia mais espaço para estocar as doações de roupas, alimentos e produtos de higiene que recebe desde o dia anterior, destinados aos moradores do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou na madrugada desta terça (1°)

A nave da Igreja está tomada por sacos com comida, roupas e garrafas d’água. Também há pilhas de doações escoradas nas paredes externas. A igreja é usada ainda como base das equipes de segurança que atuam no desmoronamento.

Doações armazenadas no interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
Doações armazenadas no interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos - Marcelo Justo/Folhapress

Assistentes sociais da prefeitura orientam que a população deixe doações na Cruz Vermelha. Entre os itens mais pedidos estão produtos de higiene pessoal. 

Movimentos sociais organizados, como a UMM (União dos Movimentos de Moradia) e a CMP (Central dos Movimentos Populares) montaram uma tenda em frente à igreja para organizar as doações. Eles também pedem que doadores deixem mantimentos em outros endereços, como o espaço cultural Cisarte, no viaduto Pedroso. 

Na tenda, os grupos montaram uma cozinha comunitária, como costuma ocorrer em invasões do MTST. O plano foi atrasado, no entanto, porque o botijão de gás foi roubado. Sem ter como cozinhar, pedem doações de lanches ou comida pronta. 

Ao longo da manhã, dezenas de pessoas foram ao local deixar doações, desde grupos de igreja e escolas até doadores individuais. Até os bombeiros que atuam no combate ao incêndio receberam ajuda de um grupo de jovens do Templo de Salomão, que levou água, pão e frutas para auxiliar o trabalho das equipes. 

“Trouxe umas sacolas com roupas que tinha em casa e não usava. Tem gente precisando e eu posso ajudar”, diz o lojista Fernando Almeida, 42. 

Um grupo de três estudantes foi levar roupas, travesseiro e cobertores, mas voltaram com as doações, negadas por assistentes sociais. “Vamos levar para a universidade, onde estão recolhendo tudo, e orientar a levarem pra a Cruz Vermelha”, disse uma delas.

Os moradores dizem que precisam de tudo: de sapato a um banheiro que possam usar (há banheiros químicos na praça, mas insuficientes para os que ali acampam). Para Jessica Matos, que vivia no prédio havia quase sete anos, a necessidade é outra: “um teto. Um apartamento. Um lugar para morar”.

INCÊNDIO

Moradores do prédio que desabou afirmam que o incêndio começou por volta da 1h30 de terça após uma explosão no quinto andar. Eles desconfiam que se trate de um botijão de gás após uma discussão entre um casal. Após a explosão, houve fogo e fumaça pelo prédio.

Segundo o secretário da Segurança Pública, Magino Alves, a principal hipótese da Polícia Civil, que apura as causas do incêndio, é de que o fogo tenha começado por um acidente doméstico —ainda não se sabe se vazamento de gás ou explosão de panela de pressão. Um inquérito foi aberto no 2°DP (Bom Retiro).

Na avaliação de Marcelo Bruni, gerente metropolitano do ​Crea-SP, o prédio estava “numa situação fora de controle, infelizmente”. “Uma estrutura metálica, num incêndio, é muito suscetível à mudança de temperatura. Se podemos dizer que houve uma circunstância feliz é que o prédio desabou sobre ele mesmo, não sobre vizinhos. Danificou a igreja, mas, considerando o que podia ter havido, foi menos grave”.

Durante a madrugada, o incêndio atingiu outros prédios no entorno da antiga sede da PF. Entre eles, a Igreja Martin Luther teve sua estrutura danificada. O templo é a primeira paróquia evangélica luterana da capital, inaugurada em 1908.

Ao todo, 366 bombeiros já atuaram na ocorrência desde o início do incêndio, com 57 caminhões. Os agentes da linha de frente têm no currículo um curso de busca e resgate em estruturas colapsadas. 

Os agentes estimam que o trabalho de resfriamento pode durar até uma semana. A câmera térmica aponta temperaturas acima dos ​150°C.

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