Polícia vasculha vídeo e chega a suspeito de ajudar ladrão morto por PM mãe

Comparsa foi flagrado em carro com falsa comunicação de roubo em Suzano

Fiesta prata, ao fundo, que teria sido usado por comparsa de ladrão morto por PM mãe em Suzano
Fiesta prata, ao fundo, que teria sido usado por comparsa de ladrão morto por PM mãe em Suzano - Reprodução
 
Rogério Pagnan
São Paulo

A Polícia Militar prendeu um homem suspeito de dar cobertura ao criminoso que acabou morto pela cabo da PM Kátia da Silva Sastre, 42, durante tentativa de assalto em uma escola particular em Suzano, na Grande São Paulo, na manhã do último sábado (12).

O suspeito foi localizado após o setor de inteligência da PM vasculhar as imagens das câmeras de monitoramento da rua onde está a escola Ferreira Master. As imagens mostram que, antes de o ladrão Elivelton Neves Moreira, 21, sacar a arma contra um grupo de mães e crianças que estavam em frente à escola, um carro Fiesta prata passa lentamente pelo local.

No carro, segundo a PM, estaria um dos comparsas do criminoso morto. O suspeito não teve o nome revelado e foi apresentado à Polícia Civil em Suzano.

Após visualizar a placa e analisar informações sobre o veículo, os policiais constataram que o carro havia sido roubado em Itaquaquecetuba (Grande SP) também no sábado, por volta das 7h30, e a comunicação do roubo à polícia teria sido feita às 9h26 pela proprietária do automóvel por meio de um celular.

A PM diz que a participação do veículo na tentativa de assalto à escola em Suzano se consolidou quando uma mulher, desta vez sem se identificar, comunicou a polícia que havia achado o veículo em Itaquaquecetuba horas depois da ocorrência. 

Só que a informante usava o mesmo número de celular que avisou à polícia sobre o roubo do carro. A dona do veículo foi localizada e ouvida pela polícia. Ela só foi liberada após o marido dela ser detido e levado à delegacia. Para a polícia, o homem pode ter prestado apoio ao ladrão que morreu ao tentar assaltar as mães da escola de Suzano.

Segundo a polícia, o suspeito já foi preso e processado anteriormente por subtração de veículos. Na delegacia, prestou depoimento e isentou sua mulher, a proprietária do veículo Fiesta prata, de qualquer participação na tentativa de roubo à escola da Grande São Paulo.

Veja aqui como civis e policiais devem agir em situações de roubo

ENTENDA

A PM Kátia Sastre estava acompanhada de sua filha de sete anos quando reagiu ao assalto em frente à escola da menina. A ocorrência ocorreu por volta das 8h. Mães e crianças pequenas aguardavam a abertura dos portões da unidade para uma festa de Dia das Mães, quando foram abordadas pelo ladrão armado. ​

De folga, Kátia disparou três vezes contra Elivelton. Ele caiu no chão e então foi desarmado. Encaminhado à Santa Casa da cidade, não resistiu aos ferimentos e morreu em seguida.

Após a atitude da policial, o governador Márcio França (PSB) organizou uma cerimônia logo no dia seguinte para homenageá-la. Reportagem da Folha publicada nesta segunda (14) mostrou que França contrariou estratégia da Polícia Militar com a realização do ato.

O enaltecimento à reação da policial com morte do bandido pode passar mensagem equivocada à tropa e à população de incentivo às pessoas reagirem a assaltos —na contramão da orientação da polícia. Outra é que a morte de ladrões seja vista pela corporação como algo incentivado pelo governo, após a escalada nos últimos anos do número de mortos pela polícia —alta de 10% em 2017, com 943 casos, recorde desde 2001. Tudo isso mesmo que a atitude da cabo tenha sido correta diante do risco no caso específico.

Nesta segunda-feira (14), em entrevista no interior do estado, o governador manteve o tom e disse que aquele que ofender a farda da Polícia Militar, ofender a integridade policial, está correndo risco de vida. "As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser", afirmou o governador.

As afirmações de França remetem a declaração do então governador Geraldo Alckmin (PSDB), em 2012, sobre uma ação da PM que terminou com nove mortos no interior de SP. “Quem não reagiu está vivo”, declarou o tucano na ocasião.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.