Covas e Doria cortam verbas de R$ 874 mi para corredores de ônibus

Última parcela foi para autódromo; prefeitura diz que usa em manutenção

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Fabrício Lobel Arthur Rodrigues
São Paulo

​A Prefeitura de São Paulo determinou na última segunda-feira (11) mais um corte de recursos na construção de corredores de ônibus na cidade. No total, a gestão João Doria/Bruno Covas (PSDB) já desistiu de gastar R$ 874 milhões na ampliação e criação de novas pistas especiais exclusivas para ônibus.

A prefeitura argumenta que o valor foi destinado a outros gastos de custeio na cidade.

A última transferência foi feita por meio de um decreto assinado na última segunda-feira pelo prefeito interino Milton Leite (DEM), no valor de R$ 12 milhões. Os recursos que seriam destinados a corredores de ônibus irão agora para a reforma e readequação do autódromo de Interlagos, na zona sul paulistana. Milton Leite está no comando da prefeitura, enquanto Bruno Covas faz viagem oficial à Europa.

Segundo a prefeitura, o dinheiro para Interlagos se faz necessário por causa da realização do Grande Prêmio de Fórmula 1 do Brasil, em novembro. A prefeitura planeja ainda vender o autódromo à iniciativa privada.

Enquanto isso, os cortes nos corredores ocorrem enquanto a prefeitura faz a licitação dos novos contratos de ônibus da cidade, que têm custos previstos de R$ 66 bilhões ao longo de 20 anos.

Entre as novidades dos contratos está a criação de um novo sistema de ônibus, que circulará em itinerários intermediários aos coletivos que já operam nos bairros e aos que cumprem grandes distâncias.

As empresas de ônibus dizem que essa organização das linhas só ficará de pé se forem feitas obras viárias que facilitem o fluxo dos veículos pelas avenidas da cidade. E corredores de ônibus são as principais obras do tipo.

Para se ter uma ideia dos cortes no sistema, o orçamento inicial deste ano para a construção e requalificação de corredores era de R$ 542 milhões. Após sucessivas transferências de verba para outras áreas, o valor previsto atualizado é de R$ 220 milhões, uma redução de R$ 322 milhões.

Nos primeiros cinco meses do ano, a prefeitura gastou somente R$ 5 milhões em construção de corredores e R$ 17 milhões em reformas ou ampliações dos existentes.

No ano passado, de R$ 595 milhões previstos para a implantação e requalificação de corredores, foram gastos apenas R$ 43 milhões. A diferença entre o previsto e o gasto no ano foi de R$ 552 milhões. 

A promessa da atual gestão é de criar 72 km de corredores de ônibus até 2020.

Enquanto o dinheiro para essas vias exclusivas era transferido para outras despesas, a verba usada com publicidade não sofreu nenhum corte neste ano. Pelo contrário, houve aumento de 6% na previsão de gastos, passando de R$ 105 milhões para R$ 111 milhões. Só neste ano o valor gasto chega a R$ 46 milhões. 

Antes de sair da prefeitura para disputar uma vaga no governo estadual, João Doria (PSDB) promoveu ampla campanha de sua principal vitrine, o programa Asfalto Novo. A previsão atualizada com pavimentação e recapeamento de vias é de R$ 367 milhões --até agora, foram gastos R$ 155 milhões. 

O secretário municipal da Fazenda, Caio Megale, disse à Folha que o recuo no valor destinado aos corredores se deu por uma queda no valor esperado de repasses federais e também a maior "pressão por despesas" de manutenção. Segundo ele, um dos cortes feitos aos recursos dos corredores serviu até para pagar o serviço de limpeza urbana.

"Como se tem um dinheiro só para duas necessidades, o corredor de um lado e outras demandas de custeio continuadas [de outro], não tem jeito. Primeiro, deve-se ter certeza de que a cidade continuará funcionando antes de fazer novos investimentos. É por isso que o investimento tem caído tanto não só para os corredores, mas de forma geral", disse o secretário. 

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