Proteção a buraco de rua vira apoio para cardápio de bar no centro de SP

Placa com anúncio de picanha foi colocada em buraco na rua Aurora

Dhiego Maia
São Paulo

Picanha a R$ 34. O prato acompanha arroz, feijão e batata frita. O anúncio gastronômico é de um bar tradicional do centro da capital paulista que foi parar em um lugar inusitado: dentro de um buraco no meio do asfalto.

Quem passou na manhã desta quarta-feira (26) pela rua Aurora, bem perto do cruzamento com a avenida São João, viu a propaganda do Bar e Restaurante Salada Record dividindo a atenção com os cones que sinalizam a existência do buraco que não para de crescer.

Comerciantes dizem que o novo incômodo da rua, bem conhecida por abrigar pontos de prostituição e usuários de drogas, surgiu há pouco mais de uma semana.

“E tá afundando”, diz Madalena Maria Paiva, 52, funcionária de um bar em frente ao buraco. Sem nenhuma obra de reparo, o que se vê em volta dele são rachaduras e sinais de que o asfalto já está cedendo.

Geraldo Santana Reis, 44, colega de trabalho de Madalena, diz que mediu a profundidade do buraco. “Já tem um metro”, afirma.

Além de ser rota para carros, o trecho afetado da rua Aurora serve de passagem para um vaivém de ônibus que buscam passageiros na praça da República, logo à frente.

Antes de ser cercado por cones, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) bloqueou uma faixa da rua que era usada para o estacionamento de carros e deixou o buraco livre de sinalização, segundo os comerciantes ouvidos pela Folha. Só que a abertura do asfalto só cresceu e forçou uma mudança de plano: cercar o buraco de vez.

Humberto Ono, 44, dono de um restaurante em frente ao buraco, diz que acionou a CET para resolver a situação. “Pedimos que ele fosse sinalizado porque os carros não paravam de bater as rodas nele. Acho que foi isso que aprofundou o problema”, diz.

DONO DA PROPAGANDA

A ideia de colocar a placa dentro do buraco como forma de protesto não partiu do Bar e Restaurante Salada Record, diz Luís Carlos Sbeghem, 55, o dono do estabelecimento que funciona há 60 anos na avenida São João.

“Achei bem inusitado, mas não foi ideia nossa não”, afirma ele. Sbeghem diz que descartou a placa nesta quarta (26) junto com outros resíduos que foram recolhidos por uma empresa que presta serviço de recolhimento de lixo para a prefeitura.

“Eu pago R$ 940 por mês para essa empresa recolher as caixas de papelão e todo o lixo orgânico e inorgânico do bar. Eu desconfio que um catador de reciclado conseguiu pegar a placa do caminhão e levou embora”, conta. “Mas é um descaso. Essa situação só estampa o abandono e as falhas na prestação de serviços no centro”, completa Sbeghem, que também é membro do Conselho Comunitário de Segurança, da República.

Humberto Ono, o comerciante que passou a conviver com o buraco em frente de seu restaurante, concorda com Sbeghem. “Não é só o buraco. Também estou cercado por uma nova cracolândia e os assaltos só têm aumentado. Estou há oito anos aqui e, como a situação só piorou, eu vou tirar meu restaurante da rua Aurora”, diz.

OUTRO LADO

A subprefeitura da Sé, a responsável pela administração de serviços públicos no centro da capital paulista, diz que enviou técnicos ao local após ser procurada pela reportagem da Folha para verificar as condições do buraco.

Após a vistoria, o órgão diz que o problema foi causado por obras da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), sob a gestão de Márcio França (PSB). "A companhia já está realizando os reparos no local", afirma a subprefeitura.

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