Yellow Bike muda plano em SP, concentra bicicletas em área nobre e cria multa

Usuário de aplicativo não pode mais deixar a bike amarela onde quiser; taxa para isso será de R$ 30

Bianka Vieira
São Paulo

O aplicativo de bicicletas amarelas que chegou a São Paulo com a propaganda de que o usuário poderia pegar a sua bike, sair pedalando por aí e estacioná-la onde quiser mudou de planos. A Yellow Bike criou restrição de uso e até uma multa para quem não respeitar os novos limites.

A restrição vai na contramão do sistema “dockless” (sem estação), carro-chefe de propaganda da marca, que dizia ser possível deixar e pegar as bikes em qualquer canto da cidade.

Para quem está fora da zona oeste da cidade de São Paulo, encontrar uma Yellow não será tão simples quanto andar de bicicleta. A partir do dia 1º de outubro, a empresa responsável pelas amarelas passará a cobrar uma taxa de R$ 30 de quem estacionar fora de sua área de atuação.

No aplicativo para celular, um novo mapa delimitado já está disponível e exibe apenas um miolo cerceado, nos extremos, pelos bairros de Vila Leopoldina (zona oeste), Butantã (zona oeste), Santo Amaro (zona sul) e Jardins (zona oeste).

No dia 3 de setembro, a Folha noticiou que o modelo havia chegado a bairros da periferia de São Paulo, como Cidade Dutra, Capão Redondo e Grajaú, no extremo da zona sul, e Brasilândia e Pirituba, na zona norte. Todos eles foram apagados no novo mapa.

Até então, a reportagem havia identificado maior número de bicicletas em áreas nobres da zona oeste, como os bairros de Itaim Bibi, Vila Olímpia e Pinheiros. Regiões norte, sul e centro careciam do símbolo amarelo que as representa.

Usuários que estiverem fora da área de atuação da Yellow e optarem por não utilizar mais o serviço podem solicitar o estorno de seus créditos através do próprio aplicativo.

OUTRO LADO

Para Eduardo Musa, presidente e cofundador da Yellow, a restrição imposta pelo aplicativo não significa mudança alguma nos projetos anunciados inicialmente pela empresa.

“A gente não consegue atender uma cidade inteira com 20 mil bicicletas. Desde o começo, colocamos que seria preciso 100 mil delas”, falou à Folha.

Para um bom funcionamento do serviço, é preciso que haja densidade na oferta em regiões com muita demanda, explica.

Sobre a multa de R$ 30 para o resgate das bicicletas, o presidente diz que não se trata de uma penalização, mas de uma taxa de retorno. “Se tivermos que mandar um táxi ou um caminhão [para buscá-las], o custo é maior pra gente.”

Idealizadas para pequenas distâncias, casos de usuários que levaram as bikes para Osasco, Santo André e outras cidades próximas a São Paulo também motivaram a medida.

Musa ainda defende que a opção por uma área de atendimento "travada tecnologicamente", como prefere dizer, não foi adotada desde o princípio para que se entendesse o comportamento da cidade.

O presidente da Yellow também refuta que a escolha tenha preterido usuários de regiões periféricas da cidade. Ele acredita que quem mais usa as bicicletas amarelas são moradores da periferia empregados no centro expandido. “Não é a pessoa que deixou de usar carro blindado que está usando a Yellow”, diz.

No último dado divulgado em setembro, a Yellow possuía 2.000 bicicletas em circulação. Atualmente, a empresa não publica mais o número por considerá-lo estratégico.​

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