Movimentações em contas de João de Deus após denúncias reforçaram pedido de prisão

Médium é considerado foragido e pode se entregar à polícia ainda neste domingo

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Abadiânia

Movimentações financeiras de altos valores, detectadas em contas do médium João de Deus após virem à tona denúncias de abuso sexual, contribuíram para o Ministério Público de Goiás pedir a prisão preventiva dele, deferida pela Justiça na última sexta (14).

Os investigadores do caso sustentam que o montante elevado das recentes transações bancárias indica possível tentativa de ocultar patrimônio e o risco de o suspeito ter preparado uma fuga.

As movimentações atípicas nas contas do médium foram reveladas neste sábado pelo jornal O Globo.

O médium João de Deus, deixa a casa onde ficou famoso por consultas e aconselhamentos espirituais. - Walterson Rosa/Folhapress

O receio é de que ele saia do país. Outra preocupação é a de preservar eventual indenização das mulheres denunciantes.

"É verdade essa informação acerca de ocultação de patrimônio e vemos com bastante preocupação, porque o levantamento emergencial, a liquidez desses valores podem estar ligados com intenção de fuga, como também a questão relacionada à frustração de futuras reparações de danos que esses abusos sexuais causaram às vítimas", disse neste domingo (16) a promotora Gabriella de Queiroz Clementino.

A defesa do médium afirma que ele apenas baixou o dinheiro de aplicações financeiras, mas que os recursos seguiram depositados em suas contas.

Os detalhes do pedido de prisão estão em sigilo decretado pela Justiça.

João de Deus não é visto desde a última quarta, quando esteve no centro em que faz cirurgias espirituais em Abadiânia (GO). Ele está em local desconhecido desde então.

A Polícia Civil de Goiás negocia sua rendição. Desde as 14 de sábado, o médium é considerado foragido.

O delegado André Fernandes, que mantém tratativas com a defesa do suspeito, disse que "tudo indica" que ele vai se apresentar à Justiça neste domingo.

Um dos responsáveis por negociar a apresentação do médium à Justiça, o advogado Thales João Jayme disse neste domingo (16) que o médium "está próximo" de sua cidade, Abadiânia (GO). "[Está a] não mais que 30 minutos num bimotor", afirmou ele.

Ele disse que não fala com o suspeito, considerado foragido, há dois dias, e que o médium negociava algumas condições com a Polícia Civil, como garantias à sua segurança pessoal no momento da rendição e à sua integridade física dentro da cadeia. Outra exigência, segundo ele, foi a apresentação de forma sigilosa. 

O advogado não explicou se houve algum tipo de acordo da defesa com os investigadores. O delegado André Fernandes informou que "tudo indica" que a entrega se daria neste domingo (16), mas não deu mais detalhes sobre as tratativas. 

O advogado afirmou que João de Deus não tem "estrutura emocional" para suportar uma fuga. "É uma decisão pessoal dele [se entregar], já tem pleno conhecimento das vantagens de uma apresentação espontânea. Acredito que vá ceder aos argumentos até por pressão da família. Falei com a esposa dele ontem [sábado] e ninguém está suportando mais todo esse sofrimento", contou.
 

O CASO

João de Deus é suspeito de ter abusado sexualmente de mulheres durante os atendimentos espirituais que realizava na cidade de Abadiânia (GO). Ele nega as acusações.

Os casos começaram a tornar-se público após 13 mulheres relatarem as denúncias no sábado (8) durante o programa Conversa com Bial, da TV Globo, e ao jornal O Globo.

Na segunda (10), Aline Saleh, 29 contou sua história à Folha: "Quem tem de sentir vergonha é ele, e não eu". Ela diz que, em 2013, esteve na casa e que foi levada para um banheiro, posta de costas e que João de Deus colocou a mão dela em seu pênis.

Segundo a Promotoria de Justiça de Goiás, 335 contatos já foram recebidos, com mensagens principalmente por email, incluindo também outros seis países (Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia, Estados Unidos e Suíça).

Também foram colhidos os depoimentos de 30 pessoas nos Ministérios Públicos de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Espírito Santo.

Em comum, a maioria das mulheres diz que recebeu um aviso de procurar o médium em seu escritório ao fim das sessões em que ele atende aos fiéis.

No local, segundo as vítimas, João de Deus dizia que elas precisavam de uma “limpeza espiritual” antes de abusá-las sexualmente. Entre as vítimas estariam mulheres adultas, crianças e adolescentes.

O promotor Luciano Miranda Meireles afirmou que os depoimentos podem ser a única forma de comprovar as acusações, já que crimes como estupro não ocorrem à luz do dia nem têm testemunhas.

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