Ministério da Saúde retira do ar cartilha voltada para saúde do homem trans

Governo atribui retirada à necessidade de revisão e diz que decisão ocorreu em dezembro; ONGs reagem

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Brasília

O Ministério da Saúde retirou do ar nesta semana uma cartilha que era voltada para a saúde de homens transexuais —pessoas que, ao nascer, são identificadas como do sexo feminino, mas que se reconhecem como pertencentes ao gênero masculino.

Chamada de "Homens Trans: vamos falar sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis", a cartilha trazia dicas para evitar infecções por doenças sexualmente transmissíveis.

A retirada do material do site do ministério ocorre menos de seis meses após ser lançada e menos de três meses após ter sido distribuída para redes de saúde do país.

Cartilha para homem trans foi retirado do ar pelo Ministério da Saúde
Cartilha para homem trans foi retirado do ar pelo Ministério da Saúde - Reprodução

Segundo a presidente da Rede Trans, Tatiane Araújo, a ausência do material foi percebida na manhã desta sexta-feira (4). A cartilha estava disponível até o início da semana. 

Questionado, o Ministério da Saúde informa que a retirada ocorreu devido à necessidade de revisão e correção no material. O trecho em análise é a página "Conheça seu órgão sexual", a qual traz figuras do órgão sexual feminino e da prática conhecida entre homens trans como "pump".

A prática consiste em usar um equipamento para aumentar o clitóris. Para o ministério, análise posterior à divulgação constatou que faltavam recomendações técnicas no material e alerta sobre riscos de lesões e sangramentos.

Representantes de entidades, porém, defendem que a divulgação era importante justamente para prevenir riscos. Afirmam ainda que a medida acabou por privar o público de outras informações importantes para prevenção de doenças transmissíveis e saúde sexual e reprodutiva.

Com 49 páginas, o documento trazia explicações direcionadas a homens trans sobre HIV, hepatite B e C, HPV, sífilis e orientações sobre como encontrar preservativos na rede de saúde e outros meios de prevenção, como a Prep (profilaxia pré-exposição). Também trazia um capítulo sobre os direitos do homem trans no SUS.

"Essa cartilha surgiu justamente por não existir nenhuma outra voltada para o homem trans. É um material sério, de prevenção e com informações", afirma a presidente da ONG Rede Trans, Tatiane Araújo.

Lançada em julho, a cartilha foi feita em conjunto entre técnicos da pasta com entidades que representam transexuais. Ao todo, foram feitas 23.500 cartilhas, distribuídas para as redes de saúde. 

“Com essa iniciativa, o departamento atende à demanda da população transmasculina que reivindicava um material específico para eles e, ao mesmo tempo, dá visibilidade e preenche uma lacuna o tema”, afirmou à época do lançamento a diretora do departamento de HIV/Aids, Adele Benzaken. 

Questionado, o ministério diz que avalia que medidas devem ser adotadas a partir de agora. Segundo a pasta, ainda não há decisão se o material impresso deve ser recolhido.

Para Araújo, a possível retirada do material de circulação indica uma posição de "desfavorecimento" do ministério às ações de prevenção voltadas a pessoas transexuais.

Ela questiona o fato da entidade não ter sido comunicada da decisão —embora tenha colaborado com o material. "Não tiveram nem o respeito de nos comunicar", diz.

Em entrevista à Folha nesta semana, o novo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o país precisava voltar a estimular a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, mas "sem ofender as famílias". 

A Folha procurou Mandetta para comentar o caso, mas não conseguiu contato. 
 

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