Descrição de chapéu Obituário Mário Ottoboni (1931 - 2019)

Mortes: O homem que criou um modelo alternativo de cadeias no Brasil

Ottoboni foi o idealizador do método APAC, referência internacional

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São Paulo

Mário chegou para trabalhar na Câmara de Vereadores de São José dos Campos. Cristão recém-convertido, ele olhou para o crucifixo na parede e sentiu uma vontade súbita de conhecer um presídio.

Na semana seguinte, fez a visita. Viu quatro das 20 celas e pediu para sair. O delegado, irônico, perguntou o que ele faria. “Agora é uma convicção, Jesus me chamou aqui para trabalhar com esse pessoal”, respondeu. 

Foi assim que surgiu a APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados. O método prevê um local para presos cumprirem suas penas, fora de celas, trabalhando na própria unidade. 

Em 1975, ele escreveu o estatuto do projeto. No final dos anos 1980, abriu a primeira cadeia do mundo sem policiais, onde os presos tinham a chave do portão. Um lugar onde a solitária virou capela.

Nascido em Barra Bonita, no interior paulista, ele cresceu numa colônia de imigrantes italianos. Apesar de terem o mecenas do compositor Vivaldi na árvore da família, os Ottobonis eram pobres.

Mário foi jornalista, escreveu peças e recebeu prêmios. Em 1965, início da ditadura, uma delas foi censurada e teve atores e cenários detidos. O autor foi fichado como “comunista atuante no Vale do Paraíba”.

Já servidor da Câmara de São José, aos 30, Mário resolveu estudar direito. Mesma época em que presidia o Esporte Clube São José e ajudava a construir o estádio. 

Ele viu o projeto da APAC ser adotado em 37 países. George W. Bush, quando governador do Texas,  inaugurou uma unidade e prometeu espalhá-las pelo país, quando fosse presidente. Não cumpriu. 

Por 55 anos, Mário foi casado com Cidinha, mãe de seus quatro filhos. Ela morreu no dia 14 de janeiro de 2016. Três anos depois, no mesmo dia, foi a vez dele, por falência de múltiplos órgãos. Mário deixou os filhos, netos e uma bisneta. "Meu pai foi um cara que cumpriu o que queria e fez bem tudo a que se propunha", diz Julio. 


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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