Tartatuga, preá, gato, colchão, tênis, abacaxi. Telines Basílio, 54, já encontrou “tudo isso e mais um pouco”, diz, em sacos de lixo supostamente reciclável nas mais de três décadas que trabalha como catador —ou agente ambiental, como são chamados esses profissionais hoje.
Se apenas 7% do lixo coletado é reciclado, segundo dados da prefeitura, o número seria ainda mais baixo não fossem as pessoas que, autonomamente ou em grupos, transformam em dinheiro o que muitos chamam de lixo: recolhem, separam e vendem o que seria descartado.
Mas o trabalho poderia ser mais fácil se as pessoas soubessem descartar o lixo da maneira correta, reclamam os catadores. “Falta informação e educação”, resume Basílio, conhecido como Carioca na Coopercaps, cooperativa de catadores da Capela do Socorro, na zona sul, da qual é presidente.
“O lixo me proporcionou muitas coisas”, diz ele, que morou na rua, trabalhou por 12 anos como carroceiro, mobiliou um barraco num ferro-velho com eletrodomésticos que encontrou por aí (TV, geladeira, fogão, micro-ondas), fez faculdade de gestão ambiental e viajou ao Japão representando catadores.
Na sua cooperativa, trabalham 202 pessoas, que têm renda fixa e benefícios, em condições bem diferentes de outros tempos, diz ele, quando “a necessidade fazia o sapo pular, e a gente saía na rua rasgando lixo para procurar coisa para vender, demorava dois meses pra juntar R$ 50”.
Na verdade, o processo começa bem antes, na casa de cada paulistano. O primeiro passo, fundamental, é separar lixo comum de lixo reciclável.
O resíduo comum é retirado pela coleta domiciliar (os dias e horários de cada região podem ser consultados no site da prefeitura ou pelo telefone 156) e levados a aterros sanitários —colocar o lixo para fora de casa fora do horário pode causar multa.
Num horário diferente, passa o caminhão de coleta de lixo reciclável, que leva os resíduos a galpões onde trabalham cooperativas de catadores cadastradas na prefeitura.
Lá, os agentes ambientais espalham o material sobre uma grande bancada e separam o que pode e o que não pode ser reciclado.
O processo, porém, pode ser completamente diferente. Na zona sul, a Central Mecanizada de Triagem Carolina Maria de Jesus, batizada em homenagem à catadora que se tornou escritora, automatizou o processo. “É uma coisa mais europeia”, explica Carioca.
A separação lembra mais uma fábrica, com esteiras e som de maquinário. Depois que os caminhões despejam o que foi coletado em um depósito, tem máquina para tudo.
A primeira é o rasga-sacos, cujo nome é autoexplicativo. Numa esteira, o material vai para uma grande peneira giratória chamada trommel, que separa os objetos de acordo com seu tamanho.
Um separador balístico discrimina o lixo por seu volume. Depois, sensores óticos separam por tipo (papel branco, papel colorido, papelão, plástico transparente, plástico colorido, embalagens etc.).
Isso tudo vai numa esteira onde, finalmente, tem gente trabalhando: agentes ambientais fazem uma última triagem do que chegou. Depois, materiais do mesmo tipo são unidos, prensados e estão prontos para serem vendidos.
A central de triagem tem capacidade para reciclar 250 toneladas de lixo por dia, mas a quantidade não chega a metade disso; a média é de 100 toneladas diárias, porque não chega material suficiente.
“O principal problema é a falta de informação”, resume Carioca. “Basta saber como descartar, o que pode e o que não pode, onde colocar cada coisa, e a cidade melhora muito”, conclui o agente.
CUIDE DE SEU LIXO
O que pode ser reciclado
Plástico
garrafas pet, embalagens, pratos, copos e talheres de plástico, canudos
Vidro
garrafas, copos, potes, frascos
Papel
jornais, revistas, panfletos, papelão, papéis que não estejam sujos
Metal
latas, ferragens, arames, panelas, tampas de iogurte
Atenção
Alguns materiais não podem ser jogados no lixo reclicável, como lixo eletrônico, lâmpadas e latas de tinta, que devem ser levados a postos específicos
Consulte os horários dos caminhões de lixo na sua região no telefone 156
Série aborda aspectos da zeladoria da cidade
Este texto estreia série sobre os problemas e dificuldades de cuidar de uma metrópole com 12 milhões de habitantes. Os desafios e as maneiras encontradas pela administração municipal para lidar com questões como buracos de rua estarão em pauta na série, que também trará dicas sobre como o cidadão pode ajudar.
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