Deborah estava sempre impecável: cabelo arrumado, maquiagem, blusa combinando com a saia e salto alto. E ai das filhas e netas se não estivessem na beca. "É obrigação da mulher se cuidar", dizia ela, que manteve o zelo com o visual até os 101 anos. Só não usava xale, "coisa de velhinho".
Apenas o desleixo era capaz de tirá-la do sério. Biá, como era chamada pelos sobrinhos, estava sempre de bom humor, sorridente e disposta a cuidar dos outros.
Filha de pai militar, Deborah passou a infância mudando de cidade com os três irmãos --era a caçula. Morou no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, onde foi vizinha de Tancredo Neves (1910-1985).
Conheceu o marido da janela de casa, no Rio. Todos os dias, ele passava por lá e flertava com a moça. O romance a distância durou sete anos. Só a pediu em casamento quando se formou médico. Ficaram a sós pela primeira vez em um trem a caminho da lua de mel.
Era fascinada por política. Foi próxima de Tancredo, trabalhou como cabo eleitoral de Ulysses Guimarães e estava sempre atualizada sobre as notícias de Brasília. Ficava inconformada quando os filhos não estavam por dentro dos assuntos.
Adorava cuidar de jardins. Quando ia à casa da filha Elizabeth, dava um jeito em todas as plantas.
Uma das maiores preocupações era dar trabalho para a família. Fazia questão de manter a independência. Após a morte do marido, em 1990, morou sozinha até os 95 anos.
Costumava dizer que Deus havia se esquecido dela. A festa de 102 anos, em maio, já estava planejada. Deborah morreu no dia 24 de março, em decorrência de uma pneumonia. Deixa seis filhos, 17 netos, 17 bisnetos.
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