Paulo de Tarso Santos, que morreu neste sábado (13), tinha um entusiasmo que não se aquietava. Mais conhecido por sua carreira política, trabalhou antes da transição política da ditadura militar. Durante essa época foi deputado, prefeito, ministro e exilado político. E deixou sua marca em cada uma dessas etapas.
Nascido em Araxá (MG), em 1923, formou-se em advocacia em São Paulo e logo se filiou ao Partido Democrata Cristão. Já era deputado federal quando participou da campanha presidencial de Jânio Quadros.
Após a vitória de Jango, Paulo de Tarso tornou-se o primeiro prefeito de Brasília, em fevereiro de 1961, capital do Brasil, havia apenas um ano. Segundo Vasco da Cunha Santos, 67, escritor e um dos filhos de Paulo de Tarso, o político admirava o projeto de Brasília, pois era um bom amigo do seu idealizador, o ex-presidente Juscelino Kubitchek.
Para Tarso, existia “pouca distância entre a ideia e a ação,” explica Vasco. Retornou ao seu gabinete de deputado meses depois, com a posse de João Goulart.
Durante essa época, votou pela implementação de um regime parlamentarista no Brasil e participou da Frente da Mobilização Popular (FMP), que advogava por diversas reformas, desde a agrária até a constitucional.
Assumiu o Ministério da Educação e Cultura em junho de 1963, mas por pouco tempo. Três meses depois, demitiu-se quando seus colegas do FMP romperam debates com o presidente Goulart. Com o golpe militar de 1964, Paulo de Tarso teve seu mandato cassado e foi preso na cidade de Pompéia, no interior de SP. Seria preso duas outras vezes.
Livre, se exilou no Chile e trabalhou para a Organização das Nações Unidas (ONU). Só voltou para o Brasil em 1971.
Como ministro, conheceu o filósofo e educador Paulo Freire. Foi Tarso que integrou o método de aprendizagem de Freire pela sensibilização à estratégia nacional, criando o Plano Nacional de Alfabetização.
Inserido na racionalidade do mundo político, também não deixou de ser poeta. Durante seus anos no Chile, escreveu versos flagrantes de sua personalidade: “Ferida na asa a ave não voa./ Canta, se canta, com extremo cuidado./ Se um grito no espaço acaso lhe soa./ Eis que o pássaro estremece assustado.”
Paulo de Tarso Santos morreu neste sábado (13), aos 93 anos, enquanto passava por um tratamento no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O político aposentado já vivia a 18 anos com Alzheimer. Deixa seus cinco filhos, 13 netos e 12 bisnetos.
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