Polícia de SP avalia ser difícil recuperar ouro roubado do aeroporto de Cumbica

Após 48 horas, diminuem chances de encontrar os cerca de 720 quilos de ouro levados por bando disfarçado de policiais federais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Muito difícil. Essa é a avaliação de integrantes da cúpula da Polícia Civil de São Paulo em relação as chances de serem recuperados os cerca de 720 quilos de ouro roubados no aeroporto de Cumbica, na última quinta (25), por criminosos disfarçados de policiais federais.

Segundo delegados ouvidos pela Folha, algumas razões explicam essa dificuldade: primeiro, porque o crime foi cometido por uma quadrilha bem organizada e, por isso, provavelmente já havia um destino para o material, antes mesmo do início do roubo.

Um segundo motivo, ligado ao primeiro, é o fato de o ouro poder ser derretido facilmente, o que torna praticamente impossível rastrear sua origem. Ainda que encontrado, com novo formato, não é possível garantir que se trata do mesmo material levado pelo grupo criminoso.

Imagem do circuito interno do terminal de cargas do aeroporto internacional de Guarulhos registra roubo de ouro realizado por bandidos disfarçados de agentes federais - Divulgação

“É uma moeda que você consegue replicar no mercado muito facilmente. Eles conseguem derreter esse ouro e retirar a procedência ilícita”, disse o delegado João Carlos Miguel Hueb, do Deic, responsável pela investigação do roubo.

O ouro levado está estimado em cerca de R$ 120 milhões.

Um outro motivo que reduz as expectativas de recuperação da carga é o fato de terem terminado neste sábado (27), às 14h30, as chamadas “48 horas de ouro” da investigação.

Esse é o período apontado nos manuais da polícia como o mais produtivo para o esclarecimento de um crime. Depois desse prazo, as chances de elucidação do caso vão se tornando mais remotas.

“É a velha máxima: ‘o tempo que passa é a verdade que se perde’”, diz  Marcos Carneiro Lima, ex-delegado-geral da Polícia Civil de SP.

Mesmo com poucas chances de recuperar o ouro, a polícia trabalha intensamente para tentar esclarecer o crime e prender os envolvidos. Além da preocupação com a própria imagem, a prisão do grupo é importante para a polícia como “efeito pedagógico”: desincentivar que mais bandidos se aventurem em  grandes roubos no estado.

Ainda segundo integrantes da cúpula policial paulista, algumas linhas de investigação estão em andamento e podem ter resultado em breve.

Uma delas é tentar identificar quem foi a pessoa (ou as pessoas) responsável pelo fornecimento de informações privilegiadas aos criminosos. Sem ajuda de alguém que conhece a rotina no terminal de cargas, ou da empresa de transporte de valores, seria impossível que o bando soubesse tanto quanto sabia.

Segundo o delegado Hueb, quando o funcionário do aeroporto foi abordado na manhã anterior ao crime e a mulher dele levada sequestrada numa ambulância, os bandidos já sabiam exatamente o que queriam e explicitaram isso. 

“A gente já sabe sua função lá [no aeroporto], a gente está te rendendo por causa disso. Queremos que você nos leve até a carga de ouro, que a gente sabe que vai chegar, que vai ser entregue tal dia, tal hora”, repetiu o delegado as palavras do funcionário refém.

Foi ele quem facilitou o acesso do grupo ao terminal. Toda a ação demorou dois minutos e meio, não sendo realizado um único disparo.

Além da técnica, a polícia paulista também torce por um lance de sorte. Espera encontrar informações em interceptações telefônica em andamento, que suspeitos investigados por outros crimes possam ter participado do roubo em Guarulhos.

Ao menos dez pessoas atuaram no plano.

Também foi em uma tacada de sorte que a polícia de São Paulo realizou uma de suas maiores prisões, em 2016, quando conseguiu identificar a quadrilha que atacou a sede da Protege em Santo André (Grande São Paulo). Nada foi levado, segundo a polícia.

Na época, sete pessoas foram presas em menos de 12 horas após o ataque porque uma delas vinha sendo monitorada por policiais do Denarc (narcóticos) pela suspeita de tráfico de drogas.

Para aumentar as chances de sucesso da polícia, uma empresa ligada às seguradoras, decidiu oferecer uma recompensa de R$ 150 mil para quem repassar informações que possam levar à apreensão do ouro e identificação dos autores do roubo.

Estima-se que os criminosos tenham gastado até R$ 1 milhão com a logística e planejamento do assalto. Eles compraram ao menos sete veículos, parte deles de luxo, além de armamento como fuzis.
Até a tarde deste sábado, não havia informações precisas a respeito dos donos da carga de ouro levada.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.