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Estudante ataca professor com faca em escola pública de São Paulo

Adolescente de 14 anos também desferiu facada contra si; caso aconteceu no CEU Aricanduva, na zona leste

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São Paulo | Agora

Um estudante de 14 anos esfaqueou um professor e, na sequência, desferiu contra si uma facada nas dependências do CEU (Centro Educacional Unificado) Aricanduva, na zona leste da capital paulista.

O ataque foi registrado por volta das 9h20 desta quinta-feira (19). As facadas causaram ferimentos na região do abdômen da vítima e do agressor.

O adolescente foi levado pelo helicóptero Águia, da PM, ao Hospital das Clínicas, no centro da cidade.

Já o professor de geografia Luís Marcos Notario, 55, recebeu os primeiros atendimentos no Pronto-Socorro Jardim Iva e, depois, foi encaminhado ao Hospital Estadual de Vila Alpina, também na zona leste.

O estado de saúde do educador é grave, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. De acordo com um policial militar que conversou com o jovem no hospital, o adolescente está consciente e com um corte no lado direito da barriga.

Testemunhas disseram à polícia que o adolescente escondeu a faca debaixo da manga de sua camiseta. Ele aproveitou a troca de aulas, esfaqueou o professor numa sala, retornou ao espaço onde estudava e desferiu uma facada contra si.

O ataque causou pânico e correria entre alunos e professores. O centro educacional foi esvaziado para os trabalhos de perícia da Polícia Civil. 

Policiais do 66º DP (Vale de Aricanduva) apreenderam o celular do adolescente. Minutos antes do crime, ele usou o aparelho para o envio de uma mensagem de despedida à mãe. A Polícia Civil investiga o que teria motivado o crime.

Aluno do 9º ano do ensino fundamental 2, o garoto se destacava pelas boas notas e pelo bom comportamento. Não havia contra ele nenhum histórico de queixas, segundo informaram os investigadores da Polícia Civil. 

O estudante era estudioso e discreto, conforme uma tia dele. Segundo a parente, que não se identificou, o adolescente se matriculou neste ano no CEU onde ocorreu o crime. "Ele é um menino calmo, estudioso, tira boas notas, caseiro e quieto", afirmou. 

A tia acrescentou que a arma usada no crime, uma faca de cortar carne com uma lâmina de aproximadamente 20 centímetros, é dela. "Jamais iria imaginar que alguém iria pegar uma faca na gaveta [para cometer crimes]. Na nossa casa não tem crianças", afirmou.

A mãe do adolescente, uma recepcionista de 39 anos, afirmou que a família foi pega de surpresa ao saber sobre a ocorrência. Ela não quis comentar o caso.

Uma aluna afirmou, em condição de anonimato, que o professor é uma pessoa "rígida" e isso poderia ter acarretado em alguma desavença com o adolescente que o esfaqueou. Ela destacou também que o educador é "muito querido." 

No momento em que o ataque acontecia, professores da rede municipal participavam no mesmo CEU de seminário organizado pelo Instituto Vladimir Herzog cujo tema era o combate à cultura de violência dentro das escolas. 

"Ali, refletíamos sobre a importância das atividades do Respeitar é Preciso! junto a educadoras e educadores na disseminação dos valores que permeiam a prática da educação em direitos humanos, como o respeito mútuo e à diversidade, e que procura fazer da escola um espaço de diálogo e de cuidado", informou o instituto por nota.

Por conta do ataque, as atividades programadas pela entidade nesta quinta no centro educacional foram suspensas.  

As aulas no CEU Aricanduva também só voltarão ao normal na segunda-feira (23). O prefeito Bruno Covas (PSDB) lamentou a tragédia e disse em entrevista à imprensa que os professores serão preparados nesta sexta (20) para recepcionarem os estudantes na próxima semana.

A Diretoria Regional de Itaquera, a responsável pela gestão pedagógica do CEU Aricanduva, informou que enviou equipes de saúde que fizeram atendimentos psicológicos aos estudantes, aos professores e aos servidores afetados pelo incidente.

A unidade de Aricanduva integra uma rede de 46 CEUs espalhados pela periferia de São Paulo. Foi inaugurada em 2003 e está sob a gestão da prefeitura.

Vista aérea do CEU Aricanduva, na zona leste de São Paulo
Vista aérea do CEU Aricanduva, na zona leste de São Paulo - Marcelo Justo - 27.jan.2008/Folhapress

Uma pesquisa recente mostrou que 52% dos estudantes da rede pública não se sentem seguros no colégio, principalmente meninas e negros.

A ONG Visão Mundial, que tem projetos na área da infância e adolescência, entrevistou 3.814 alunos de 9 a 17 anos em agosto e setembro de 2018, em 67 escolas públicas de sete municípios onde atua no país, sobretudo no Nordeste.

Um terço dos estudantes que responderam à pesquisa já teve aulas canceladas por tiroteios ou outros riscos externos. A mesma proporção também já foi alvo ou vivenciou efeitos da violência urbana, assim como já sofreu ameaças de abuso físico no colégio.

Já as brigas entre alunos são frequentes para 84% dos entrevistados. 

MASSACRE DE SUZANO

Casos de violência dentro de escolas têm sido cada vez mais frequentes. Nesta última segunda (16), um ex-aluno da Escola Estadual Soldado Eder Bernardes dos Santos, no Itaim Paulista, também na zona leste da capital, invadiu o colégio portando um martelo na mochila.

Ele foi descoberto antes de esboçar qualquer intenção de agredir alunos e professores da unidade, mas a presença dele no local com a ferramenta causou pânico. A Polícia Militar foi acionada e retirou o jovem do local.

O maior e o mais recente atentado numa escola pública do estado de São Paulo completou seis meses neste mês.

Na Escola Estadual Prof. Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, o ex-aluno Guilherme Taucci, 17, e o seu comparsa, Luiz Henrique de Castro, 25, entraram na escola armados e mataram a tiros cinco estudantes e duas funcionárias; antes de chegarem à escola, haviam matado um empresário, tio de Guilherme.

Ao final do massacre e percebendo a chegada da polícia, Guilherme matou seu comparsa e se suicidou.

O Brasil havia sido palco de uma chacina semelhante em 2011, que deixou 12 estudantes mortos além do atirador, que se suicidou, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro.

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