Rachaduras em prédio ao lado do Masp causam temor na av. Paulista

Edifício Dumont-Adams deveria receber anexo do museu, mas obra está parada; instituição diz que não há risco

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O edifício Dumont-Adams, ao lado do Masp, está com as obras paradas Zanone Fraissat/Folhapress

São Paulo

Durante 20 anos foi um edifício abandonado. Também já foi o local que se transformaria em anexo do Masp —com um enorme mirante, de onde, nos dias claros, poderia se avistar o mar. Já foi um projeto rejeitado e alvo de disputa judicial entre o museu e a Vivo, que comprou o imóvel por R$ 13 milhões e o doou para a criação do Masp Vivo. Já foi um novo projeto —dessa vez sem o mirante. Hoje, o Dumont-Adams voltou a ser o que era no início deste parágrafo: um prédio vazio.

Vazio e aparentemente deteriorado. Esse é o problema.

Quem passa em frente ao número 1510 da avenida Paulista, mesmo que levante os olhos até onde a vista alcança, vê apenas um tapume de metal e o prédio envolto por uma tela de proteção. Por trás dela, paredes descascadas, pichadas e com ares de abandono.

Do outro lado da avenida, no entanto, pode-se avistar o esqueleto do que seria a base do mirante, com colunas —onde se destacam grandes rachaduras— que sustentam três lajes acima dos pedestres da Paulista.

Edifício Dumont-Adams, ao lado do Masp; torre começou a ser construída em cima do prédio - Zanone Fraissat/Folhapress

A pedido da Folha, Thomaz Eduardo Teixeira Buttignol, professor de estruturas de concreto da Universidade Presbiteriana Mackenzie-Campinas, analisou fotos da estrutura do edifício. 

Segundo o especialista, alguns pontos devem ser observados: se a estrutura está exposta, se há rachaduras e infiltrações e, principalmente, se inspeções periódicas são realizadas.

Buttignol explica que, evidentemente, apenas avaliando as fotos não é possível dizer que o Dumont-Adams represente perigo iminente, mas afirma que a aparência do prédio e a sensação dada pelas fotos não são nada boas. "A parte de cima, como está exposta, é a pior", diz. 

De acordo com o professor, da forma como está a obra fica exposta à ação da chuva, do vento, da poluição que acelera a corrosão de estruturas e da trepidação do trânsito na via e do metrô.

"Essa destruição não é linear, é exponencial", diz, explicando que o início de um processo de corrosão pode demorar, mas uma vez instalado o processo até ao ponto em que a queda é iminente pode ser bem mais rápido. 

Procurada, a Prefeitura de São Paulo afirma que o prédio de 15 andares tem Alvará de Aprovação e Execução de Reforma, emitido pela Secretaria de Licenciamento em junho de 2018. O alvará tem validade de quatro anos.

A responsabilidade pela obra e pela segurança da edificação são de competência do proprietário e do responsável técnico, afirma a prefeitura.

O Masp afirma que "a equipe técnica do museu acessa o edifício rotineiramente para verificar sua condição estrutural, levantar e eliminar qualquer eventual anomalia que possa ser encontrada". 

Segundo o museu, "a estrutura do edifício se encontra em boas condições, não representando risco às pessoas que transitam pela avenida Paulista".

Em nota, o Masp afirma que revisões são feitas regularmente no edifício. A última delas ocorreu em novembro e uma nova está programada para o primeiro trimestre de 2020, quando será instalada uma nova tela, em substituição à que foi colocada há dois anos.

Sobre as rachaduras aparentes na estrutura superior do prédio, o museu afirma que não representam riscos. "Segundo Silvio Feitosa, engenheiro responsável pelo projeto de estrutura da reforma do edifício Dumont-Adams, não há indício de anomalia da estrutura de concreto armado existente que represente risco à segurança de transeuntes da avenida Paulista", diz o museu em nota.

MIRANTE DA DISCÓRDIA

Quando foi criado o projeto do anexo do Masp, a obra era vista como solução financeira para o museu que amargava déficits anuais. Após a paralisação, em 2013, o desfecho edifício parece incerto. 

Incertezas também não faltaram desde o início desse projeto —de autoria de Júlio Neves, arquiteto que presidiu o Masp por 14 anos.

Em 2005, o plano foi rejeitado pelo município. O órgão de preservação do patrimônio vetou o enorme mirante que iria se sobrepor ao Masp. A torre fora concebida como um belvedere. A cúpula abrigaria um café com 13 mesas; o prédio que sustenta a torre teria uma loja do museu e escola de arte.

A Vivo, que havia doado R$ 12 milhões para a transformação do prédio em Masp Vivo, tratou de tentar reaver o dinheiro. Empresa e museu travaram uma batalha na Justiça até chegarem a um acordo. Durante esse período, um novo projeto para o prédio, sem o mirante da discórdia, foi aprovado.

Se tivesse saído do papel, o Masp Vivo abrigaria hoje a área administrativa do museu, uma escola de pós-graduação em museologia, história da arte e restauro e um café que teria patrocínio da Nestlé.

Agora, com as obras paralisadas, o museu afirma que a finalidade que será dada ao prédio é objeto de estudos que "levam em conta objetivos, necessidades e disponibilidade financeira para a execução da obra". 

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