Os olhos verdes marcantes também foram corajosos. Antonia Francisca da Conceição nasceu na cidade pernambucana de Arcoverde, conhecida como a primeira porta do sertão no estado de Pernambuco. Conheceu um repentista e casou-se por lá.
Anos depois, o casal —já com duas filhas —decidiu se mudar para o estado de São Paulo. O percurso foi difícil, num pau de arara.
“A minha avó nunca se lembrou disso como algo triste. A cara parada, ela arrumava as crianças e todos iam para a cidade. As pessoas se encantavam com as meninas e também com o marido repentista e ajudavam”, conta uma das netas, a jornalista Selma Viana, 54. Das 15 gravidezes, seis crianças sobreviveram.
Em São Paulo, Antonia morou em alguns bairros, como Mooca, Bresser e Vila Prudente (zona leste) e Brás (centro), e foi dona de pensões.
Apesar de analfabeta, era despachada e proativa. Essas qualidades ajudaram-na a aprender a se virar sozinha na cidade grande. Aos 47 anos, ficou viúva e com a missão de cuidar da família.
Tornou-se uma “faz tudo” conhecida. De briga de casal a partos, Antonia era a primeira opção quando a população precisava de ajuda.
“Minha avó foi líder comunitária sem saber o que era isso e nem se envolver com a política formal”, diz Selma.
Há 20 anos mudou-se para Taubaté (140 km de SP). Festeira e forrozeira fã de Luiz Gonzaga, Antonia era pura diversão. Poderia ser a personagem da canção do seu ídolo Luiz Gonzaga, A Vida de Viajante. Como gostava das cantorias!
Famosa em Taubaté, suas festas de aniversário —na véspera de São João— eram consideradas eventos. Amigos e familiares de São Paulo reservavam hotéis para comemorarem a data com Antonia. Sua casa era o ponto de encontro com a alegria.
Antonia Francisca da Conceição morreu dia 5 de abril, aos 92 anos, por complicações da idade. Viúva, deixa cinco filhos, 17 netos, 25 bisnetos e um tataraneto.
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