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Santa Casa em SP recebe injeção privada e ressurge da crise com novos leitos de UTI para Covid-19

Em crise financeira, instituição histórica amplia oferta de leitos pelo SUS com aporte de consórcio

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São Paulo

O maior pronto-socorro de portas abertas a todos em São Paulo, o da Santa Casa da Misericórdia, na região central, aumentou em 120% o número de leitos destinados a pacientes com coronavírus em meio à maior crise financeira de sua história.

Para tentar superar a instabilidade, que se arrasta desde 2014, a Santa Casa passou por reorganizações operacionais e administrativas. Agora, com a pandemia do novo coronavírus em rápida expansão, o hospital conta com doações da iniciativa privada que somam cerca de R$ 20 milhões para poder ampliar o atendimento de pacientes com Covid-19.

Com o aumento veloz do número de casos de coronavírus na cidade de São Paulo, os 20 leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) e os outros 30 leitos comuns reservados aos pacientes com a Covid-19 no início da pandemia foram insuficientes, segundo o provedor da Santa Casa, Antonio Penteado Mendonça.

Entrada de atendimento da oncologia. Movimentação na Santa Casa
Entrada de atendimento da oncologia. Movimentação na Santa Casa - Zanone Fraissat/Folhapress

O jeito foi aumentar a capacidade de leitos hospitalares. A expansão foi possível com um investimento de R$ 20 milhões feito por um consórcio formado pela Rede D’Or de hospitais e as empresas de planos de saúde Qualicorp e SulAmérica Saúde.

Com o dinheiro do consórcio, a Santa Casa pôde reformar três andares do hospital, aumentando o número de leitos destinados aos pacientes com coronavírus de 50 para 110.

O hospital central da Santa Casa tem hoje 80 leitos de UTI e 30 leitos comuns destinados a pacientes com a Covid-19. De acordo com a assessoria do hospital, mais de 90% dos leitos já estão ocupados.

Outros 65 leitos comuns devem ser inaugurados até o dia 16 de maio, também frutos da doação.

A reforma possibilitou ainda a troca de janelas, pisos, instalação hidráulica e sistemas de chamada de enfermagem, além de permitir a compra de equipamentos como monitores e respiradores mecânicos e insumos suficientes para os próximos três meses.

À Folha Mendonça disse que é possível ampliar a capacidade do hospital para enfrentar a pandemia de coronavírus caso a Santa Casa continue recebendo ajuda para cobrir os custos. Ajuda que, segundo ele, tem vindo de muitas frentes. Os fornecedores de EPIs (equipamentos de proteção individual), por exemplo, têm vendido os insumos a preços menores para o hospital. Para se ter uma ideia, são utilizadas cerca de 10 mil máscaras cirúrgicas por dia na Santa Casa.

Entrada do Pronto Socorro da Santa Casa de São Paulo
Entrada do Pronto Socorro da Santa Casa de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

A Qualicorp é responsável por R$ 4 milhões do total doado, segundo o presidente do grupo empresarial, Bruno Blatt.

Ele afirma que o objetivo do grupo é promover a criação de leitos para atender casos de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) de coronavírus tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, onde participa de outro consórcio para a viabilização de 200 leitos no hospital de campanha Parque dos Atletas, que está em construção.

A maior parte do valor, R$ 14 milhões, foi doada pela Rede D'Or. "A Santa Casa apresenta uma profunda relação com São Paulo, é um centro de referência hospitalar no país e oferece serviços de alta complexidade aos pacientes do SUS. Então a doação fortalece uma instituição que já prima pela excelência e é uma unidade que faz parte do sistema de saúde pública da cidade", afirma Leandro Tavares, vice-presidente da rede.

Outra frente de trabalho que pode ajudar a explicar o novo momento que vive a Santa Casa é a renegociação das dívidas da irmandade que administra o hospital.

Quando o antecessor de Mendonça, o pediatra José Luiz Egydio Setúbal, assumiu a provedoria em 2015, durante a parte mais aguda da crise, segundo ele, foi necessário fazer reformas. Com uma dívida próxima dos R$ 900 milhões, Setúbal demitiu funcionários e interrompeu cirurgias eletivas para diminuir os custos de operação do hospital.

“Na época em que cheguei o déficit era de quase R$ 20 milhões por mês. A Santa Casa atendia 5 milhões de pessoas por ano e tinha um orçamento de R$ 1,5 bilhão, mas também tinha uma dívida”, disse.

Setúbal explica que nos dois anos em que foi provedor houve um início da reformulação, uma tentativa de ajustar as contas da instituição.

“A situação da Santa Casa ainda está longe de ser confortável, mas acho que agora, com a pandemia, houve um afluxo grande de doações, isso vai ajudar porque há muitas reformas que precisam ser feitas. Houve uma reforma grande de enfermarias para aumentar o número de UTIs. Isso é muito importante."

Novos leitos da Santa Casa foram inaugurados após reforma realizada graças a parceria com iniciativa privada
Novos leitos da Santa Casa foram inaugurados após reforma realizada graças a parceria com iniciativa privada - Divulgação

O ex-provedor, que adquiriu em 2005 o Hospital Sabará e criou a Fundação José Luiz Egydio Setúbal, fez ele mesmo uma doação de 5.000 máscaras N95 para a Santa Casa, além ter emprestado para a instituição respiradores excedentes do Sabará.

Quando Mendonça assumiu a provedoria, em 2017, a dívida era de mais de R$ 700 milhões. Após negociações com a Fazenda Nacional e com o Primeiro Negócio Jurídico Tributário da Procuradoria em São Paulo, o hospital pagou cerca de R$ 280 milhões e refinanciou outros R$ 80 milhões em 15 anos.

Hoje, diz, a dívida é da ordem de R$ 400 milhões, R$ 360 milhões em um contrato com a Caixa e o restante com fornecedores.

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