Descrição de chapéu Coronavírus

Com pouca adesão, centros de acolhida na zona sul de São Paulo podem ser desativados

Locais foram estruturados para receber pessoas que não conseguiam se isolar em casa

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Gisele Alexandre Lucas Veloso
São Paulo | Agência Mural

A operadora de caixa Rafaela Fidelis dos Santos, 25, foi diagnosticada com Covid-19 em junho e se viu em uma situação delicada. A médica pediu que a moradora do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, se isolasse do filho e do marido enquanto se recuperava.

“Falei que morava em uma casa pequena e que não tinha espaço para ficar em isolamento”, contou.

Apesar de explicar a situação na UBS Santa Lúcia, ela não foi informada de que havia um serviço disponível para esse isolamento no próprio distrito: o Centro de Acolhimento.

Centro de acolhida para infectados com coronavírus se isolarem na zona sul de São Paulo
Centro de acolhida para infectados com coronavírus se isolarem na zona sul de São Paulo - Governo do Estado de São Paulo/Divulgação

Preparado para receber pacientes como ela, com sintomas leves da doença e que vivem em locais com grande risco de transmissão, o centro de acolhida no Jardim Ângela tem sido pouco utilizado, apesar do investimento, segundo funcionários do local.

“Quando o paciente tem teste positivo para a Covid-19, a UBS (Unidade Básica de Saúde) deve dar a opção de que ele pode ficar no centro de isolamento. O posto tem o papel de enviá-lo pra cá. E não está acontecendo”, afirma Maria (nome fictício), que trabalha no centro de acolhida do Jardim Ângela, zona sul, mas que pediu para não ser identificada.

Segundo a funcionária, desde que começou a receber residentes, em 18 de maio, a estrutura feita para cerca de 300 pessoas não recebeu mais do que 4 pacientes nas últimas semanas. “Temos uma mega estrutura, tipo hotel, e não estamos recebendo ninguém.”

Funcionários desse centro e de outro em Paraisópolis relataram que nos últimos dias houve demissões nessas unidades e que eles foram informados pela direção de que os espaços serão fechados dia 30.

O Centro de Acolhida foi criado em uma parceria entre o governo do estado e a iniciativa privada. Escolas foram adaptadas para esse serviço. A ideia era que os moradores permanecessem no local enquanto precisassem do isolamento, para não aumentar a propagação do coronavírus.

Ali, os moradores contam com programação, que envolve palestras, sessões de filmes e TV a cabo, além de seis refeições, bingo e cultos religiosos.

Foram destinados para o serviço dois colégios em Paraisópolis, também na zona sul de São Paulo, e um terceiro no Jardim Ângela, na Escola Estadual Luís Magalhães.

A unidade iria receber pacientes encaminhados por médicos, para que ficassem isolados pelo tempo necessário. Mas a falta de divulgação tem sido apontada como um dos problemas para maior uso das unidades.

A medida foi anunciada como um dos métodos para ajudar no combate à pandemia em comunidades, um dos pontos mais vulneráveis na propagação do coronavírus, tendo em vista as moradias pequenas e o tamanho das famílias.

“O enfrentamento à Covid-19 nas comunidades é um grande desafio para o Brasil. Com a união de todos, governo e iniciativa privada, transformamos mais esta escola em uma extensão das casas para as pessoas infectadas que mais irão precisar desse apoio neste momento”, disse o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, à época da inauguração.

Rossieli também disse que o espaço iria obedecer a protocolos de higiene, como o uso de máscaras e de talheres descartáveis para as cinco refeições diárias, além de organização do local para manter o distanciamento social entre pessoas nos diferentes estágios da doença.

Segundo a gestão estadual, o Hospital Israelita Albert Einstein e o Hospital Sírio-Libanês cuidam das unidades. O custo de R$ 3,7 milhões seria bancado pela entidade Todos pela Saúde, uma fundação do Itaú Social, também segundo o governo do estado.

Em Paraisópolis, a situação também começou complicada, mas a gestão diz que houve aumento no número de pacientes. Os centros estão instalados desde 29 de abril nas escolas estaduais Maria Zilda Gamba Natel e Etelvina de Goes Marcucci.

A jornalista Ana Leite, 50, voluntária na ONG Parceiros da Educação e coordenadora dos centros de acolhida de Paraisópolis e do Jardim Ângela, diz que o líder comunitário Gilson Rodrigues foi procurar a entidade para isolar pessoas mais pobres que estavam infectadas, mas, no início das atividades, houve confusão.

“As pessoas confundiam com hospital de campanha e a gente desmistificou isso”. relata. “A gente percebeu que tinha muito preconceito com a doença, medo de contrair o vírus , além das pessoas que escondiam a doença.”

A expectativa inicial era de que o local ficaria lotado rapidamente, mas Ana diz que foi o contrário. “Não foram ocupados todos os espaços disponíveis, então procuramos as organizações sociais que cuidam das unidades de saúde e oferecemos o centro, inclusive colocamos à disposição da Secretaria Municipal de Desenvolvimento”, comenta.

Depois de algumas semanas, ela diz que houve crescimento do uso dos espaços. Segundo números dela, cerca de 270 pessoas passaram pelos centros de Paraisópolis entre 29 de abril e 28 de junho.

Procurada para falar sobre a baixa ocupação e sobre se há previsão de fechamento dos centros de acolhida, a Secretaria Estadual de Saúde indicou que a reportagem deveria questionar o munícipio. A Prefeitura, por sua vez, não respondeu até a publicação deste texto.

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