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Paraisópolis terá área para isolar moradores com sintomas leves de coronavírus

Estrutura, com mais de 500 leitos, funcionará em duas escolas da favela de SP que já contratou médicos por conta própria

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Carlos Minuano
São Paulo

A favela de Paraisópolis, em São Paulo, terá uma área de isolamento com 520 leitos para atendimento de moradores da comunidade com sintomas leves do novo coronavírus.

A estrutura funcionará nas escolas estaduais Maria Zilda Gamba Natel e Etelvina de Góes Marcucci, que estão ociosas por causa do recesso escolar. O espaço que deve começar a funcionar até o final desta semana vai oferecer acolhimento para pessoas que precisem permanecer em quarentena. Não haverá atendimento ambulatorial no local.

Serão pouco mais de 250 vagas em cada uma das escolas, informa o líder comunitário de Paraisópolis e coordenador nacional do G10 das favelas, grupo que reúne lideranças das dez maiores comunidades do país, Gilson Rodrigues.

“Montamos uma estrutura semelhante à de uma casa, com camas, chuveiros, equipamentos de proteção e de higiene para que as pessoas acolhidas tenham um espaço com condições adequadas para fazer a quarentena." Segundo ele, as pessoas receberão cinco refeições diárias e serão assistidas por cuidadores.

A iniciativa, que partiu da própria comunidade, busca amenizar um dos principais entraves para o enfrentamento da disseminação da doença na comunidade, que é a dificuldade de isolamento das pessoas infectadas.

“São na maioria residências muito pequenas, com um ou dois cômodos, onde vivem famílias bem numerosas, com cerca de sete a dez pessoas em média, muitas delas do grupo de risco, como idosos, asmáticos e diabéticos”, observa o advogado voluntário da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, André Lozano.

Os recursos para o projeto estão vindo por meio de doações de pessoas físicas e de empresas. E estão chegando não apenas em dinheiro, mas também em equipamentos para a infraestrutura e em serviços.

“Uma empresa doou camas e colchões, outra forneceu equipamentos de cozinha, grupos locais estão oferecendo máscaras, alimentos”, detalha Rodrigues. “É uma iniciativa da comunidade, colocada em prática por meio da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis e do G10 das favelas com a colaboração da sociedade”. O projeto para a construção do espaço de acolhimento conta ainda com o apoio do Governo de São Paulo, que liberou o uso das escolas.

A previsão é que a iniciativa funcione por três meses ou mais, se for necessário, sublinha o líder comunitário. “Estamos vivendo um dia de cada vez, mas acreditando que conseguiremos os recursos necessários para mantermos o espaço funcionando durante o tempo que a comunidade precisar.

Os protocolos de entrada na casa de acolhimento devem obedecer critérios bem simples, avisa Rodrigues. “Testou positivo, tem um idoso ou doente crônico em casa é um candidato para vir ao espaço”. Os encaminhamentos devem ser feitos por meio da UBS de Paraisópolis. Uma ambulância será mantida à disposição no local para encaminhar pacientes que tenham quadros agravados e venham necessitar de atendimento hospitalar.

Cerca de 80 pessoas devem trabalhar no acolhimento dos moradores em quarentena, todas remuneradas, como seguranças, cozinheiras e cuidadoras. “Esse pessoal em sua maioria deve ser contratado na própria comunidade”, diz o advogado da associação que representa a favela, André Lozano. “É uma maneira de também combater o impacto econômico da pandemia, estimulando a geração de renda em Paraisópolis.”

Entretanto, o advogado teme que a estrutura fique lotada rapidamente. “Considerando os mais de 100 mil habitantes da comunidade, um alojamento com 500 leitos não será suficiente para manter em quarentena todos os infectados. Vai reduzir danos, mas atenderá uma pequena parcela da demanda.”

Ele prevê uma expansão do atendimento para cerca de 3.000 pessoas ou mais durante o pico de contaminação. Há também a expectativa entre moradores de que seja montada uma estrutura hospitar para casos de média complexidade no CEU de Paraisópolis.

Mobilização na comunidade

A casa de acolhimento é uma das ações em Paraisópolis para enfrentar a pandemia da Covid-19. Outras iniciativas já estão atendendo a comunidade. Também com recursos de doações, a associação de moradores contratou uma equipe com médicos, enfermeiros e quatro ambulâncias, uma delas com UTI móvel, que desde meados de março presta atendimento 24 horas na região. Já foram mais de 120 atendimentos a moradores com suspeita de coronavírus.

O acesso ao atendimento de emergência está funcionando por meio de uma estrutura de monitoramento coordenada pelos próprios moradores. “A cada 50 casas, temos um presidente de rua voluntário, que fica responsável por acompanhar a situação das famílias, por garantir que elas permaneçam em casa e que recebam doações de cestas básicas, kit de higiene. A comunicação é feita em geral por WhatsApp para evitar aglomerações”, conta Rodrigues. No total, cerca de 1.200 pessoas estão trabalhando na operação.

O líder comunitário destaca ainda outras iniciativas, como a distribuição diária de marmitas, que tem o objetivo de fortalecer a imunidade dos moradores, um projeto de home office de costureiras, que estão fabricando máscaras e a ação “adote uma diarista”, segundo ele, a categoria de trabalhadoras mais atingida pela crise na comunidade. A mobilização já está atendendo cerca de 150 pessoas, que receberão R$ 300 durante três meses, cesta básica e kit de higiene. Outras 800 ainda estão à espera do auxílio.

Rodrigues lamenta que governos estejam se posicionando ainda de forma muita lenta e insuficiente no sentido de conter os estragos da pandemia em regiões de extrema vulnerabilidade. “Não foi criada uma política pública específica para as favelas, estão ignorando 13 milhões de pessoas que moram nessas áreas, e que vão sofrer ainda mais por causa do coronavírus”. Paraisópolis tem até o momento 15 casos confirmados de Covid-19 e nove óbitos suspeitos.

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