Letalidade policial bate recorde, e homicídios sobem durante a pandemia em SP

Agentes mataram 514 pessoas neste primeiro semestre; número de policiais mortos cresceu

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São Paulo

A quarentena conseguiu baixar a curva do coronavírus em São Paulo, mas, mesmo com parte da população isolada, os índices de violência cresceram. O primeiro semestre de 2020 foi o que a polícia mais matou no estado em duas décadas. O número de homicídios e latrocínios também subiram.

Os dados foram divulgados pela Secretaria de Segurança Pública nesta sexta-feira (24).

De janeiro a junho, as polícias civil e militar mataram, juntas, 514 pessoas —um aumento de 20% na comparação com o mesmo período de 2019, quando houve 426 mortes. É o maior número da série histórica do governo paulista, que iniciou em 2001. Até então, o semestre mais letal havia sido 2003, com 487 casos.


Essas mortes em decorrência de intervenção policial contabilizam tanto as ocorrências com policiais de serviço, quanto os de folga, desde que a ação do agente tenha relação com a condição de policial —como intervir em um roubo.

Houve também um maior número de mortes entre policiais este ano. Foram 28 agentes assassinados, 12 a mais do que no início do ano passado.

Já o número de vítimas de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) subiu de 1.465 nos primeiros seis meses do ano passado para 1.522 no mesmo período deste ano. Desde 2013 que o número de assassinatos no estado não subia.

Foram contabilizados ainda 95 vítimas de latrocínios, quatro a mais do que no mesmo período de 2019.

Os novos indíces interrompem uma sequência de quedas usada como trunfo pelo governo de João Doria (PSDB). E as cenas de abuso policial têm contrariado seguidamente a versão oficial dos agentes e do governo.

O tucano mudou a postura desde a eleição, quando repetia que a polícia dele iria "atirar para matar” e que mandaria bandidos para o cemitério.

Após uma série de casos de grande repercussão, tanto o governador quanto o secretário-executivo da PM paulista, o coronel Alvaro Batista Camilo, passaram a dizer que não compactuam com ações violentas e que os casos são isolados.

"São 112 mil policiais, 80 mil abordagens, 80 mil ligações para o Copom [centro de atendimento de emergências da polícia]. A maioria das abordagens ocorrem tranquilamente, mas é sempre um momento tenso para as duas partes. A taxa de homicídio no estado é de 6 por 100 mil habitantes, a menor do país", argumentou o chefe da PM em evento online há duas semanas sobre racismo institucional na segurança pública.

Doria chegou a dizer no ano passado que reduzir a letalidade não era obrigação da polícia. Em junho de 2020, porém, afirmou que o governo de São Paulo não será complacente com nenhuma violência policial "sob nenhuma justificativa".

Nos últimos meses, vídeos mostraram um policial pisando no pescoço de uma comerciante negra em Parelheiros, zona sul da capital paulista. Antes disso, o agente havia enforcado outro homem.

Dois PMs também aparecem, em outra filmagem, tentando imobilizar um motoboy negro com um "mata-leão". Ele, que havia sido abordado por ter estacionado sobre a calçada e estar com a placa encoberta teria reagido a abordagem, diz "eu não consigo respirar", apelo semelhante ao do de George Floyd, também negro, morto em maio ao ter o pescoço pressionado por nove minutos pelo joelho de um policial em Minneapolis (EUA).

Outro episódio recente de abuso aconteceu com a prisão de oito policiais militares, após imagens mostrarem os agentes batendo em um homem. E mais dois policiais militares são suspeitos de atuar na morte de Guilherme Silva Guedes, 15 anos, encontrado morto em Diadema (Grande SP), com um tiro na cabeça. O caso gerou protestos na região.

Todos os casos são investigados pela Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo.

Doria anunciou que vai expandir o programa de câmeras acopladas no fardamento de policiais militares para registrar, em áudio e vídeo, as intervenções das equipes. A ampliação ocorre, porém, com cerca de um ano de atraso em relação à previsão inicial e não inclui as unidades conhecidas pela alta letalidade em suas ações.

Já os crimes contra patrimônio caíram, segundo os dados divulgados pela secretaria. Houve redução nos roubos (8,3% ou cerca de 10 mil casos a menos) e furtos em geral. No caso do roubos de veículos a queda foi maior, de 31%. Foram 16.222 casos, ante 23.658 no ano passado.

Na comparação semestral também houve diminuição de 16% nas ocorrências de roubos de carga. A quantidade passou de 3.536 para 2.945. Já os roubos a banco cresceram de 11 para 14.

Os casos de estupro também recuaram 15%, passando de 5.960 para 5.071, se comparado os primeiros seis meses de 2019 com igual período de 2020.

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