A artista plástica Tereza Costa Rêgo tinha obsessão por vermelho. A predileção trazia alguns significados, como o calor do Nordeste e o tom da vida que levou em 91 anos.
Tereza usava as frases que gostava de pronunciar para se definir. Em uma delas, dizia que havia nascido para decorar o piano da sala de sua casa, mas que muitas vezes foi obrigada a quebrá-lo.
Sua história é digna de conquistar as telonas dos cinemas. Tereza nasceu no Recife, no seio de uma família pertencente à tradição açucareira. Recebeu educação rígida e foi reprimida. Era como se não tivesse direito a realizar os próprios sonhos.
Quando adolescente, foi autorizada a matricular-se na Escola de Belas Artes do Recife, porque já mostrava talento para desenho. Tereza casou-se cedo para se livrar do ambiente que tanto a sufocava. A união durou 14 anos, período em que já se dedicava à pintura.
Aos 21 expôs pela primeira vez no Museu do Estado de Pernambuco e passou a ser reconhecida nacionalmente.
Um dia, conheceu o grande amor de sua vida, Diógenes Arruda Câmara, líder do Partido Comunista do Brasil.
Tereza abandonou o casamento e mudou-se com Diógenes para São Paulo. Cursou história na USP e trabalhou como paisagista.
Diógenes foi preso e torturado durante a ditadura militar. Em 1972, quando o libertaram, o casal ficou exilado no Chile e em Paris, na França.
“Tereza viu de perto grandes fatos do século 20, como as ditaduras de Vargas, de Pinochet e a Revolução dos Cravos. A pintura de Tereza incorpora a história do século 20 que ela presenciou”, afirma o jornalista e biógrafo da artista, Bruno Albertim.
Sete anos depois, voltam ao Brasil, mas Diógenes morre. A partir daí, sua arte ganha força e corpo. O nu feminino e a história de Pernambuco começam a aparecer em suas telas, como a série “7 Luas de Sangue”, que retrata fatos históricos do Brasil.
“Os críticos de arte dizem que é uma das obras mais importantes da arte moderna no Brasil”, explica Bruno. Outras características apareciam em suas obras: telas enormes e a presença de animais, como gatos.
Tereza estava feliz. Havia comprado uma casa em Olinda (PE). Era novamente a artista de destaque no estado. O amor que sentia pela vida contagiava todos. A elegância e a simplicidade da artista tinham um casamento harmonioso.
Foi a heroína popular do Recife e o maior nome feminino da pintura modernista pernambucana.
Tereza Costa Rêgo morreu dia 26 de julho, aos 91 anos, por complicações de um AVC. Deixa duas filhas, três netos e uma bisneta.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.