Aos cinco anos, coube ao músico Lucas Laypold escolher com quem moraria após a separação dos pais.
Ele optou pelos avós, em Porto Alegre (RS). A vida ao lado deles fortaleceu os laços de amor, principalmente com o avô, o advogado Daniel Leite Casagrande. Para Lucas, o “Vô Cabelo”.
Apesar da profissão séria, Daniel era muito brincalhão e alegre. O largo sorriso era sua marca registrada.
Daniel e Lucas tinham em comum a paixão pela música.
“Meu avô foi a primeira pessoa a perceber que eu amava a música e até aprendia composição para me ensinar. Nossa conexão era de outro mundo", conta Lucas, hoje com 21 anos.
Eram inseparáveis. Daniel o levava e buscava na escola, e foi seu maior incentivador até os últimos dias. Assim como o neto, também escrevia canções.
Há cerca de oito anos, Daniel começou a apresentar episódios de esquecimento. O primeiro e mais representativo foi quando não parou em um cruzamento por onde passava diariamente de carro.
“Eu falei: ‘Vô, o cruzamento’, e ele não entendeu. Reuni a família e alertei que havia algo de errado. No médico, descobriu o Alzheimer”, diz Lucas.
A partir deste momento, a doença piorou. Daniel passou a se esquecer das pessoas e das coisas. Na primeira vez que se esqueceu de Lucas, o neto compôs a canção “Vê se Não Me Esquece Mais” e passou a cantá-la todos os dias para o avô. “Fui para o quarto e a música saiu do coração.”
A letra fala do esquecimento progressivo enfrentado por Daniel nos últimos anos.
“E vê se não me esquece mais. Eu tava lembrando de lembrar você. De acordar, só quando o dia amanhecer. Vê se não me esquece mais. Eu tô cantando só pra te dizer. Que eu te amo e que a tristeza eu não sei cadê. Eu sei que um dia você não vai mais lembrar da gente...”, diz um trecho da canção.
Já com a memória bastante ruim, um dia, Daniel lembrou dos versos da música e começou a cantar. “Foi o dia mais feliz da minha vida. Eu precisava mostrar aquilo para todo mundo”, afirma Lucas, que gravou um vídeo do momento.
A doença fortaleceu a relação entre eles. Os últimos momentos de Daniel foram ao lado do neto. “O que ficará na minha memória é o sorriso e a felicidade dele. Mesmo entre as dificuldades, há espaço para um sorriso. Agradeço a ele por ter atendido meu pedido e não ter se esquecido de mim até o último momento.”
Daniel Leite Casagrande morreu no dia 18 de setembro, aos 72 anos, por complicações do mal de Alzheimer. Deixa esposa, três filhos e quatro netos.
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