Ativista negra sofre aneurisma e morre durante operação policial em Porto Alegre

Polícia foi à casa de Jane Beatriz Silva Nunes após receber denúncia de maus-tratos contra crianças, que não se confirmou

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Porto Alegre

A ativista negra Jane Beatriz Silva Nunes, 60, morreu, nesta terça-feira (8), durante operação da Brigada Militar, como é chamada a PM do Rio Grande do Sul.

Nunes atuava como Promotora Legal Popular (PLP), um projeto da ONG Themis que capacita lideranças comunitárias em temas como direitos humanos. Ela vivia na Vila Cruzeiro, periferia da capital gaúcha.

Segundo a necropsia, a causa da morte foi o “rompimento espontâneo de um aneurisma cerebral”.

Márcia Soares, advogada da Themis, afirma que a ativista morreu em decorrência da queda na escada de sua casa. A perícia, porém, não localizou no corpo “nenhum sinal de trauma que justificasse o óbito”.

Segundo o IGP (Instituto Geral de Perícias), “a causa da morte, portanto, é clínica”. O órgão disse também que a necropsia foi realizada por um perito médico-legista especializado em neurocirurgia.

Nunes foi socorrida no local pelos policiais. Segundo a Brigada Militar, policiais estavam patrulhando a área quando receberam a denúncia de crianças sofrendo maus-tratos na residência.

Um morador teria consentido com o acesso dos policiais ao local, segundo a BM. A polícia não encontrou indícios de que confirmassem a denúncia.

"Sem que haja notícia de mandado judicial, a Brigada Militar invadiu a casa de Jane, que tentou impedir a violação ilegal de seu domicílio. Jane era mulher consciente de seu direito à dignidade e à privacidade e não cedeu à truculência policial”, afirmou a Themis em nota.

Neste momento, então, a ativista teria passado mal.

Ativista sorri em foto
Jane Beatriz Silva Nunes, ativista negra que morreu durante operação policial em Porto Alegre - Divulgação

De acordo com o tenente-coronel Cilon Freitas da Silva, a BM abriu um Inquérito Policial-Militar (IPM) para investigar o caso. Policiais que estavam atuando no patrulhamento e testemunhas serão ouvidas. O inquérito tem prazo de 40 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado ou finalizado antes do prazo.

“Segundo relatos, o 1º Batalhão da Brigada Militar já vinha realizando ações similares de intimidação e invasão do domicílio de Jane e de diversos outros moradores da Grande Cruzeiro”, afirma a ONG.

O 1º Batalhão é comandado pelo tenente-coronel Cláudio dos Santos Feoli, o responsável pelo policiamento ostensivo na região.

A BM informou que sua Ouvidoria está aberta para receber relatos sobre ações policiais. Denúncias de crimes podem ser feitas de forma anônima ao Disque-Denúncia, por meio do telefone número 181.Um protesto por “memória, justiça e reparação” está marcado às 18h desta quarta-feira (9), na Vila Cruzeiro.

Nas redes sociais, a Themis pediu por Justiça: "É imprescindível e urgente que as circunstâncias da morte de Jane sejam rigorosamente apuradas pelas autoridades competentes; que a família e a comunidade recebam o adequado apoio e respeito do Estado e que ações concretas sejam tomadas pelo Poder Público para que os direitos e as vidas das pessoas negras e periféricas não sejam mais sistematicamente violados".

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