Descrição de chapéu Obituário Lourdes Tovo (1940 - 2021)

Mortes: Transgressora e solidária, foi goleira na década de 1960 e diretora escolar por 28 anos

Neta de italianos, Lourdes Tovo resolvia os problemas sem desanimar e sem ter medo da vida

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São Paulo

Transgressora, solidária, explosiva e resolutiva. Lourdes Tovo conciliava algumas das características mais antagônicas em si. Talvez por isso tenha sido diretora de escola por 28 anos. Problemas para resolver, alunos e famílias para ajudar, situações que a tiravam do sério e exigiam engenhosidade não lhe faltaram.

Neta de italianos, criada com os avós, em Ribeirão Preto, aprendeu desde cedo o valor do trabalho, da ajuda ao próximo e de se virar diante da vida. “Ela tinha esse espírito de imigrante. Eles [seus avós] vieram para ganhar o mundo. Era viver ou viver”, diz o filho Danilo Tovo.

Lourdes está sentada com uma taça na mão
Transgressora e solidária, Lourdes Tovo foi goleira na década de 60 e diretora escolar por 28 anos - Arquivo pessoal


Altiva, a mulher de olhos extremamente azuis, estava sempre um passo à frente de seu tempo. Ainda nos 1960 foi a goleira de um time feminino de futebol, quando raríssimas mulheres se arriscavam no esporte então predominantemente masculino. “Eram 11 italianas”, diz Danilo, explicando que ninguém se arriscaria a dizer a elas se deveriam ou não.

Foi assim a vida afora. Por vezes o coração parecia não caber em seu 1,72 m. Se visse um morador de rua em apuros, não pensava duas vezes e dava um jeito de levá-lo em sua Caravan para comer em algum lugar.

“Uma vez estávamos no hospital e uma mulher estava esperando para ir embora, mas a ambulância nunca chegava”, lembra o filho. “Ela não teve dúvidas. Colocou a mulher no carro e levou até a periferia de Ribeirão.”

Outra feita, a irmã de uma empregada esperava para fazer uma consulta e um exame que poderia apontar se estava com câncer de mama ou não. A espera para ver um médico na rede pública era torturante –para a paciente e para ela. “Ela falou: ‘Não aguento mais, não consigo nem dormir’ e resolveu pagar uma consulta particular para a mulher”, diz o filho.

Em janeiro do ano passado, pouco antes do início do período de isolamento social, comemorou seu penúltimo aniversário com a presença de todos os amigos de uma vida dedicada ao trabalho, à família e a ajudar o próximo.

Havia cerca de cinco anos, Lourdes operara um aneurisma na aorta. Em 2020, o problema reapareceu. Ela seguiu forte, até onde deu, diz Danilo. No dia 20 de janeiro, reuniu alguns amigos, com toda segurança que o período exige, e comemorou seu 81º e último aniversário.

Na última sexta-feira (5), despediu-se da vida com uma morte súbita. Além de Danilo, deixa uma filha e um neto, o xodó de seus últimos anos, diz o filho.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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