Descrição de chapéu Obituário Valéria Rodrigues (1979 - 2021)

Mortes: Lutou pela população trans e cobrou políticas inclusivas

Valéria Rodrigues não parou a militância na pandemia e morreu vítima da Covid

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São Paulo

Ao precisar parar a intensa rotina de ativista LGBTQI+ por causa da Covid-19, Valéria Rodrigues escreveu uma carta de despedida postada nas redes sociais.

"Amores, vou me ausentar das atividades por dez dias ou talvez para sempre. Se melhorar estarei por aí, se for embora vou feliz. Fiz tudo que me deu vontade, amei, odiei, agradei e desagradei muita gente", disse. "Se chorei ou se sorri, o importante é que eu virei travesti."

Valéria foi internada em estado grave em um hospital de campanha de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, e ficou na fila por um leito de UTI para vítimas da Covid-19.

Assim como outros milhares de pacientes, não resistiu ao agravamento da situação e partiu sem receber o atendimento adequado ao seu estado de saúde. Morreu no sábado (13), aos 41 anos.

Antes, teve tempo de conversar com a irmã, Elenice Rodrigues, a Nice, 51.

"Ela disse que me amava muito e que minha mãe era tudo para ela", conta Nice.

A mãe, Elena, 75, recebe o apoio dos amigos da filha para lidar com a perda. A irmã lembra que o Instituto Nice, criado por Valéria, recebeu esse nome em sua homenagem.

Valéria Rodrigues posa em frente à bandeira do movimento LGBTQI+
Valéria Rodrigues, presidente do Instituto Nice - Reprodução / Facebook

O instituto atua na reinserção social e profissional de transexuais, travestis, gays, lésbicas e bissexuais na região de Franco da Rocha, Caieiras, Francisco Morato, Mairiporã e Cajamar.

Valéria organizava cursos, palestras e rodas de conversas. Oferecia ajuda para a retificação de nome e gênero, acompanhamento psicológico e doação de cestas básicas. Ficou conhecida pela coragem ao participar do resgate de vítimas da exploração sexual.

Em 2015, a travesti foi aluna do Transcidadania, programa para pessoas trans de São Paulo.

"Foi uma lutadora muito aguerrida e nunca recusou trabalho. Indignava-se com as adversidades que a vida impõe para a população trans, mas nunca esmoreceu diante dos desafios", definiu, em nota, a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

Nascida em Campo Mourão (PR), mudou-se para São Paulo no início da década de 1990. Trabalhou como cabeleireira e, para algumas clientes, brincando, dizia que elas deveriam dar cabeladas "nas inimigas".

Em plena pandemia, atuava na linha de frente para auxiliar a população trans vulnerável. A família e as colaboradoras garantem que o Instituto Nice não vai parar.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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