Descrição de chapéu Obituário Zelinda Casella (1928 - 2021)

Mortes: Afetuosa, deu voz ao pensamento crítico do aluno

Zelinda Casella lecionou história e filosofia no Liceu Pasteur de 1956 a 2002

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma das professoras mais queridas do Liceu Pasteur, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, encerrou sua passagem pela vida deixando entre seus muitos alunos a marca mais almejada por um docente: a de ensinar a pensar.

Zelinda Casella, lembrada tanto pelo afeto quanto pela seriedade, marcou a história do colégio e a memória de algumas centenas de alunos que por lá passaram.

Zelinda trabalhou no Liceu Pasteur de 1956 a 2002, período em que lecionou história e filosofia. “Ela nos desafiava a pensar e apenas falava —não tínhamos livros. Mas assim aprendemos sobre Sócrates, Freud, Marx”, afirma a atriz e professora Bia Bologna, que a tem como inspiração.

Zelinda Casella (1928-2021)
Zelinda Casella (1928-2021) - Reprodução/Facebook de André Youssef

Aluno nas duas disciplinas durante todo o ensino médio, o cantor e pianista André Youssef diz carregar até hoje “todos os conceitos dos grandes filósofos e pensadores” graças à mestra.

“Ela era impressionante. Dava uma aula parecida com as de faculdade. Não escrevia quase nada na lousa. Fazia a gente pensar.”

Rita Lee, uma das alunas ilustres, homenageou Zelinda em redes sociais. “Certa vez, passei a aula toda fazendo a caricatura dela sem prestar atenção a nada. No fim da aula, Zelinda se chegou, puxou o desenho e, diante da classe, expôs minha obra-prima com a seguinte crítica: você acertou meus cabelos e minha roupa, mas errou feio na expressão do meu olhar. Da próxima vez, preste mais atenção porque não vou passar a aula toda posando para você!”

O rigor com que Zelinda preparava as aulas e que devotava ao ensino era único, descreve o crítico e professor de teoria literária da USP Marcelo Pen. “Era uma pessoa muito à frente do seu tempo. Tinha liberdade na escolha dos assuntos, os apresentava de forma isenta e prazerosa e aguçava na gente a sede de conhecimento”, diz. “Ela foi importante e essencial na formação de muita gente que, hoje em dia, forma outras pessoas.”

“Irônica, quase clássica na forma de ensinar, dona Zelinda foi professora inesquecível, daquelas que mudam a vida de alunos ao abrir as portas do conhecimento de maneira didática e definitiva”, relembra Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha.

Até o jeito de se vestir —terninhos elegantemente cortados em plenos anos 1980— refletia seus modos, lembra a designer gráfica Regina Félix, 55. “Ela era rígida sem ser grossa. Tinha uma ironia fina, que cabia nas aulas. Aprendemos a ter senso crítico. Zelinda foi especial, foi brilhante.”

Zelinda morreu de causas naturais, com 92 anos e um legado de gerações.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.