Ambev terá exclusividade de vendas dentro do Ibirapuera

Em um ano de concessão, problemas de conservação permanecem e marcas dominam paisagem do parque

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Quiosques vermelhos vistos através de árvores

Praça de alimentação do serviço de entregas iFood montada no Ibirapuera Eduardo KnappFolhapress

São Paulo

Um ano após o início da gestão privada do Ibirapuera, mudanças pontuais começam a se tornar mais claras para quem frequenta o parque na zona oeste de São Paulo.

A Urbia, que vai administrar o parque por 35 anos, tem se valido, para auferir receita, de um programa de patrocínios, que neste ano colocou em destaque a iFood e a Ambev.

Esta última obteve o direito de exclusividade de vendas de bebidas dentro parque. Já neste mês, a população deixa de ter acesso a produtos de concorrentes da Ambev não só nos quiosques do parque mas até entre os ambulantes autorizados a trabalhar no lugar.

Praça de alimentação patrocinada pela iFood no parque Ibirapuera - Folhapress/Eduardo Knapp

Em breve, a marca estará espalhada pelo parque, e os logos de seus produtos poderão ser exibidos em uniformes de atendentes, dos ambulantes e nos guarda-sóis.

Em nota à Folha, a Ambev afirma que, pela parceria, se torna mantenedora do Ibirapuera. Segundo a companhia, estão previstas benfeitorias, entre as quais a instalação de mobiliário e novos carrinhos, "mais modernos e com novo layout", para os autônomos. A firma diz, ainda, que deverá dotar o parque de dois novos quiosques para comercialização de alimentos e bebidas.

Além do acordo com a Ambev, outras marcas do setor de comidas e bebidas vão cravejando o conjunto composto de edifícios projetados por Oscar Niemeyer e paisagismo de Otávio Augusto Teixeira Mendes.

Uma praça de alimentação patrocinada pelo serviço de entregas iFood foi inaugurada recentemente pelo prazo de um mês, com possibilidade de renovação. O conjunto de estrutura metálica vermelha tem quiosques dispostos em círculo; no centro, mesas e balanços que fazem as vezes de cadeiras.

A instalação fica próxima ao Pacubra (Pavilhão das Culturas Brasileiras). Um pouco mais adiante, seguindo em direção à Bienal, Casa do Pão de Queijo, Bacio de Latte e outras redes ostentam suas marcas em carrinhos e tendas.

Para o diretor comercial da Urbia, Samuel Lloyd, essa transformação segue “uma regra de mercado”.

“Existe isso [contrato de exclusividade] em vários segmentos, em várias redes de restaurante. Qual é a contrapartida? Quando uma empresa está fazendo isso, está pagando uma cota de patrocínio, que mantém o parque funcionando."

Com a concessão, todas as obrigações de investimento passaram para a Urbia, recorda Lloyd. Conta difícil de fechar diante das restrições impostas para conter o coronavírus.

No último trimestre do ano passado os custos totais da concessionária com seis parques que a empresa administra por meio de concessão pública foram da ordem de R$ 5,1 milhões. Deste valor, a receita operacional líquida obtida foi de R$ 943 mil, o que representa, neste período específico, um prejuízo de mais de R$ 4 milhões para a empresa.

“Qualquer número que eu fale aqui será irreal perto do plano que a gente desenhou”, prossegue o empresário. “A gente tem investido bastante no parque Ibirapuera. Evidentemente, consideramos a impossibilidade de realizar eventos em equipamentos geridos por nós e até de nos conectar com o número de pessoas [que frequentam o parque]."

Segundo a empresa, cerca de R$ 10 milhões foram investidos em ações de manutenção, reparos e segurança. A outorga ao município pelos 35 anos representou outros R$ 70,5 milhões.

Uma das questões que não encontraram solução neste primeiro ano sob a iniciativa privada é a da marquise. Antes protagonista no parque, a estrutura desenhada por Niemeyer para conectar os prédios que criou encontra-se interditada, salvo pelo trecho ao longo do Museu de Arte Moderna.

Uma liminar, em dezembro do ano passado, determinou o fechamento total, mas desde fevereiro de 2019 havia pontos de circulação proibida.

A SVMA (Secretaria do Verde e do Meio Ambiente), que era responsável pela gestão do parque até o início da concessão, afirmava já então não ter fundos para realizar nem mesmo reparos emergenciais, muito menos para uma reforma ampla, que pode custar até R$ 15 milhões —valor empregado em restauro realizado há menos de dez anos, entre 2010 e 2012.

O impasse que vedou o uso de um dos equipamentos mais populares do parque decorre do fato de que o edital de privatização não previa que o concessionário se encarregasse de reformas estruturais, apenas reparos e melhorias.

É o argumento em que Lloyd hoje se ampara. "Para nós também é um problema a marquise estar como está, porque ela precisa de uma obra estrutural, e obras estruturais ficaram de fora do contrato de concessão."

Ele diz que cabe à prefeitura responder se há alguma previsão de liberar a construção. À Folha, a SVMA informa que está elaborando "documentações necessárias" para contratar o projeto de restauro da marquise, depois do que será possível orçar e licitar o restauro.

Entre as modificações que Lloyd diz que virão, está a ampliação dos banheiros. É uma obra que, como outras no parque, depende de autorização dos órgãos de preservação do patrimônio.

O Ibirapuera é tombado nas três esferas de preservação —municipal, pelo Conpresp, estadual, pelo Condephaat, e federal, pelo Iphan. Os órgãos mantêm um escritório compartilhado para dirimir questões referentes a bens nessa condição.

“O atual estado da Oca exige uma restauração", admite Lloyd, questionado sobre o estado da construção, já praticamente sem pintura. "Essa é uma realidade também do Pavilhão das Culturas Brasileiras", acrescenta.

Dentro do Pacubra, estão estacionadas as bicicletas e os carrinhos de golfe usados pelos seguranças. "Está totalmente inviabilizado para fazer qualquer coisa lá dentro. Temos usado o prédio como ponto de apoio, mas os projetos de restauro foram protocolados."

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