Descrição de chapéu Obituário Nuncio Carelli (1915 - 2021)

Mortes: Em 105 anos, fez da vida e da profissão uma arte

Nuncio Carelli foi um camiseiro famoso na cidade de São Paulo

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São Paulo

Aos sete anos, Nuncio Carelli ganhou uma enxada de presente do pai. O objeto não era um brinquedo, mas o passaporte para o trabalho escravo na roça.

Experimentou o sofrimento sob várias formas, desde sair de casa durante a madrugada descalço e sem proteção contra a geada até o trabalho debaixo do sol forte. Mesmo no sacrifício, Nuncio amou seu pai com todas as forças.

Natural de Taquaritinga (a 334 km de SP), era o quinto de 14 filhos de um casal de imigrantes italianos.
Ele eternizou detalhes da sua infância, a vida dura e a convivência familiar no livro “Memórias de um Desconhecido”, escrito entre 1997 e meados de 2002.

Nuncio Carelli (1915-2021)
Nuncio Carelli (1915-2021) - Arquivo pessoal

Analfabeto até os 18 anos, idade em que, com a cara e a coragem, veio para São Paulo, conseguiu emprego numa padaria na rua Augusta (centro). Lá conheceu Josefa Almeida Neves, irmã do dono do estabelecimento, que viria a ser sua esposa.

O rapaz progrediu. Cursou o segundo grau em contabilidade e quando se casou foi trabalhar na oficina de costura que o cunhado havia aberto para Josefa.

“Este foi o início da história dele como o camiseiro mais importante de São Paulo em meio a grandes alfaiates. Ganhou três vezes o prêmio de melhor camiseiro da cidade. Na época, o Diário da Noite premiava os melhores em várias categorias”, conta o jornalista Wagner Carelli, 67, seu filho.

Nuncio cercou-se de amigos importantes e era requisitado por prefeitos e governadores para a fabricação das camisas. Fez da sua profissão uma arte.

O casal teve dois filhos, ambos formados em faculdade. Até 105 anos, passou por guerras, viveu amores, alegrias e dissabores.

Aos 82 anos, decidiu praticar Yoga e por dez anos foi o aluno mais velho. Tornou-se um sábio. Gozou de excelente saúde até poucos anos antes de partir.

Mesmo com idade avançada, aos domingos, caminhava da rua Frei Caneca (centro) até as proximidades do Clube Pinheiros (zona sul).

Entre as muitas viagens ao exterior, realizou o sonho de conhecer a Europa. Passeou por Veneza, na Itália, e morou em Portugal.

Vaidoso e cuidadoso ao vestir-se, tinha um terno para cada dia da semana. Foi severo, mas de grande coração. Ensinou aos filhos a tratarem as pessoas com generosidade.

Nuncio Carelli morreu dia 11 de junho, aos 105 anos, em decorrência de problemas causados pela idade avançada. Viúvo, deixa os filhos Dorinha Carelli Mounsey e Wagner Carelli.

“Ele dizia que não tinha medo de morrer, mas queria viver. Foi o que ele fez. Viveu intensamente”, diz Wagner.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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