Descrição de chapéu Obituário Daisy Maria Ramos Monteiro (1951 - 2021)

Mortes: Independente e discreta, foi intensa nos afetos

Daisy Maria Ramos Monteiro morreu em decorrência de um câncer no pulmão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Como ensina Antonio Cândido, só a ficção permite apresentar alguém com coerência e contorno. Na vida real, sobram arestas, contradições e mistérios. Isso talvez seja particularmente notável no caso da psicanalista Daisy Maria Ramos Monteiro.

Como de costume na profissão, os analisandos desconheciam sua vida familiar e a família sequer sabia os nomes de quem frequentava o consultório —embora fosse contíguo a sua residência.

Segunda dos cinco filhos da professora Daici e do comerciante Miguel, Daisy nasceu em Olímpia, interior de São Paulo, em 1951, no dia da Independência. Desde pequena, “independente” era a primeira palavra que me ocorria para falar dela. Sempre trabalhou, conduzia sua vida de um jeito autônomo, o 7 de Setembro lhe caía bem.

Daisy Maria Ramos Monteiro (1951-2021)
Daisy Maria Ramos Monteiro (1951-2021) - Bruno Cucio

Depois do ginásio, ingressou no curso normal por exigência do pai —que outra profissão para uma mulher se não o magistério? Cursou também o chamado científico e entrou na faculdade de psicologia da USP de Ribeirão Preto.

Na república onde morava, ouvia Taiguara enquanto fazia barras nas calças das colegas. Juntava o dinheiro e comprava discos, cigarros e passagens de ônibus para encontrar o namorado em São Paulo, onde passaria a viver em 1975.

Lecionou nas Faculdades São Marcos, no Ipiranga (zona sul), e Metodista, em São Bernardo do Campo (ABC).

Montou consultório na Rua Maranhão, onde atendeu até o final de 1987, quando junto à família se mudou para São José do Rio Preto.

Ingressou na Sociedade de Psicanálise de São Paulo no início dos anos 1990. Trabalhou até o penúltimo mês de vida, quando descobriu um câncer de pulmão em estágio avançado.

Durante os quarenta dias de internação no Hospital de Base de Rio Preto, as portas duplas que separavam o consultório da casa de Daisy foram simbolicamente abertas: analisandos e supervisionandos recorreram à família em busca de notícias.

Discreta e modesta, pouco comemorava conquistas, não se vangloriava de casos bem-sucedidos nem quantificava seus atendimentos. Homenageá-la neste obituário é quase traição.

Vê-la, em seu leito hospitalar, escrever a seus pacientes para desmarcar as sessões programadas foi uma grande lição. Percebi a intensidade do afeto que alimentava essas relações.

Deixa o marido, Dirceu, os filhos Isabel, Marcelo e Lúcia, e os netos Joana, Victor e Leonor.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.