Luiz Lopes era um agregador de pessoas e o elo da família. Gostava de juntar os parentes próximos com os distantes para confraternizar.
No dia a dia, era amoroso, piadista e brincalhão. Nascido em Promissão (a 451 km de SP) e filho de pai espanhol com mãe de ascendência indígena, foi sozinho para a capital paulista em busca de trabalho em 1948.
De registro na carteira profissional, o mais emblemático foi o de torneiro mecânico. Profissionalizou-se e uniu técnica e talento na metalurgia. Ao longo da carreira, passou pela Light São Paulo, pela Ford e Volkswagen, onde se aposentou.
“Não posso deixar de notar certo paralelismo entre a trajetória individual do meu avô e do próprio país e do mundo: trabalhou num modelo fordista de produção econômica, viu nascer o movimento operário sindical do ABC no fim da ditadura militar, aposentou-se com estabilidade, relativamente jovem, e morreu no mesmo ano em que a Ford anunciou sua saída do Brasil e que a Volks informou que desativará milhares de postos de trabalho no país”, afirma o neto Caio do Valle Souza, 35, historiador.
Na década de 1950, Luiz casou-se com Alayde Gonçalves. Da união, que durou mais de 50 anos, nasceram três filhos. Em 2007, Alayde faleceu, vítima de câncer. Luiz levava esse primeiro amor no peito com uma tatuagem de coração, feita quando tinha 20 e poucos anos, conta Caio.
No ano seguinte, a vida deu-lhe um novo casamento, com Iraci. O casal ficou junto até 2020, quando problemas de saúde obrigaram Luiz a ir para uma casa de repouso.
Ele partiu dia 12 de julho, aos 90 anos, por complicações de Covid-19. Deixa a esposa, três filhos, quatro netos, duas bisnetas e o exemplo de uma vida digna construída com muito trabalho.
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