Homem se acorrenta em frente à Câmara Municipal de SP e pede ação pelos sem-teto

Robson Mendonça quer discutir o tema com o presidente da Casa, Milton Leite

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São Paulo

O presidente do Movimento Estadual da População de Rua de São Paulo, Robson Mendonça, está acorrentado em frente à Câmara Municipal desde as 10h desta segunda-feira (20) em protesto contra o fim de programas emergenciais para os sem-teto criados durante a pandemia. Ele também entrou em greve de fome.

De acordo com ele, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) interrompeu em 80% a distribuição de 10 mil marmitas por dia aos sem-teto. “A partir do dia 25 será encerrada a distribuição das 2.000 marmitas restantes”, disse.

Homem com máscara preta mostra correntes presas entre suas mãos e o portão da Câmara Municipal
Robson César Correia Mendonça, 67, se acorrentou à entrada da Câmara dos Vereadores para protestar contra fim de programa emergencial para sem-teto - Zanone Fraissat/Folhapress

O programa Rede Cozinha Cidadã teve início em abril do ano passado com o objetivo de garantir a alimentação dos sem-teto na capital, já que o comércio e a circulação de pessoas nas ruas foram bastante reduzidos pelas medidas sanitárias. Foi feita uma parceria em que restaurantes participantes receberam R$ 10 por marmita distribuída.

Além da distribuição de marmitas, a prefeitura criou vagas emergenciais em albergues, que também serão extintas até o próximo dia 30.

Mendonça disse que só irá sair de frente da Câmara Municipal após ser recebido pelo presidente da Casa, o vereador Milton Leite. “Se cada vereador destinar uma parte da verba de emenda para a alimentação dos sem-teto, o problema seria amenizado”, disse.

O Ministério Público questionou na Justiça o fim do programa, mas o juiz Kenichi Koyama negou a obrigatoriedade de sua continuidade. Na decisão, o magistrado argumentou que se trata de uma questão política e que o Judiciário deve ficar de fora da discussão.

Segundo censo divulgado pela prefeitura em 2019, há cerca de 24,3 mil pessoas vivendo nas ruas de São Paulo.

Em nota, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania afirmou que os atendidos pelo programa Rede Cozinha Cidadã estão sendo direcionados para o programa Bom Prato. A justificativa foi "a progressão do cenário pandêmico e o período atual de maior abertura em relação ao funcionamento do comércio".

A pasta disse também que distribuiu desde agosto 4.000 cartões com QR Code, fornecidos pelo Governo do Estado, a pessoas em situação de rua que não estejam acolhidas nos serviços da rede socioassistencial para serem usados nas unidades do Bom Prato.

A Câmara Municipal afirmou em nota que o presidente Milton Leite (DEM) cumpre agendas externas nesta segunda-feira. Leite confirmou que irá se reunir com Robson Mendonça e a vereadora Erika Hilton nesta quarta-feira às 16h. "Farei o possível para ajudar", disse Leite.

Ex-morador de rua

Como ex-morador de rua durante seis anos, Mendonça já sentiu na pele a dificuldade de não ter o que comer. Ex-fazendeiro, ele conta que perdeu tudo ao vender sua propriedade em Alegrete (RS) para se mudar para São Paulo e foi alvo de um sequestro. "Levaram tudo que eu tinha e virei morador de rua", diz.

Durante seis anos sem uma moradia fixa, ele recebeu ajuda de R$ 250 para pagar o aluguel e, depois disso, conseguiu se reerguer. Foi quando ele fundou o Movimento Estadual da População de Rua de São Paulo, em 2000.

Mendonça fez parte da criação do Comitê Intersetorial da Política Municipal para a População em Situação de Rua, criado em 2013 na cidade de São Paulo, e está entre seus integrantes até hoje.

Desde o primeiro dia da pandemia, ele diz que tem distribuído cerca de 500 marmitas diariamente em seu escritório no centro de São Paulo. “Há algumas semanas que a quantidade vem diminuindo e não é possível atender todos”, diz sobre o motivo que o levou a se acorrentar nas grades da Câmara Municipal.

“Recorremos ao Ministério Público, enviamos oficiais para a prefeitura, mas nada adiantou, então tive que tomar essa medida extrema.”

Diagnosticado com câncer e se recuperando de uma internação recente para tratar a doença, Mendonça causa preocupação entre colegas de movimento por sua saúde fragilizada.Tido como teimoso, ele aceitava apenas goles de água desde a manhã desta segunda.

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