Descrição de chapéu Itamaraty

Governador da Bahia diz que aceitará ajuda da Argentina mesmo após recusa federal

No Twitter, Rui Costa (PT) afirmou que aceitará auxílio de qualquer país, sem passar pela diplomacia brasileira

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Rio de Janeiro

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou nas redes sociais nesta quinta-feira (30) que aceitará a ajuda oferecida pela Argentina às vítimas das fortes chuvas que atingiram o estado na última semana. Na noite anterior, o governo federal dispensou o auxílio do país vizinho.

"Me dirijo a todos os países do mundo: a #Bahia aceitará diretamente, sem precisar passar pela diplomacia brasileira, qualquer tipo de ajuda neste momento", escreveu o governador no Twitter.

Na Bahia, 141 municípios foram afetados pelas fortes chuvas e 132 seguem em situação de emergência - Camila Souza/GOVBA

Costa disse que os baianos e brasileiros que vivem no estado precisam de todo tipo de ajuda. "Estamos trabalhando muito, incansavelmente, para reconstruir as cidades e as casas destruídas, mas a soma de esforços acelera este processo, portanto é muito bem-vinda qualquer ajuda neste momento."

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nas redes que a ajuda da Argentina não era necessária. Ele disse que o governo argentino ofereceu assistência de dez homens para trabalho de almoxarife e seleção de doações, montagem de barracas e assistência psicossocial à população afetada. Esse trabalho, segundo Bolsonaro, já está sendo feito pelas Forças Armadas.

"O fraterno oferecimento argentino, porém muito caro para o Brasil, ocorre quando as Forças Armadas, em coordenação com a Defesa Civil, já estavam prestando aquele tipo de assistência à população afetada", afirmou o presidente na manhã desta quinta-feira (30).

Bolsonaro disse ainda que o governo está aberto a receber ajuda internacional. "Ontem, o Itamaraty aceitou doações da Agência de Cooperação do Japão: são barracas de acampamento, colchonetes, cobertores, lonas plásticas, galões plásticos e purificadores de água, que chegarão à Bahia por via aérea e/ou serão adquiridos no mercado brasileiro", afirmou.

Professor de Direito Internacional na USP (Universidade de São Paulo), o advogado Gustavo Ferraz de Campos Monaco avalia que a Bahia tem autonomia para aceitar a ajuda humanitária, levando em conta os valores e bens que devem ser garantidos segundo a Constituição, como a dignidade da pessoa humana e a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais.

"Esses aspectos previstos na Constituição como princípios da República Federativa do Brasil me parecem que podem, sim, autorizar uma atuação diante da inércia do governo federal", diz.

Ele afirma que o texto constitucional não proíbe que os estados aceitem ajuda do exterior, determinando apenas o firmamento de tratados internacionais como responsabilidade exclusiva do governo federal.

"Essa chamada paradiplomacia acaba sendo muitas vezes exercitada por outras entidades da federação. É comum, por exemplo, que municípios realizem atividades de coordenação com estados estrangeiros. Isso já começa a se configurar como certo costume internacional", diz.

O presidente tem sido criticado por ter mantido as férias em Santa Catarina e não ter visitado a Bahia em meio ao desastre que já matou ao menos 24 pessoas.

Em entrevista à Folha, o governador Rui Costa estimou em cerca de R$ 1,5 bilhão a recuperação do estado. Ele afirmou que não há registro anterior de tamanha destruição na Bahia.

O governo federal chegou a anunciar R$ 80 milhões para restaurar as estradas federais no estado, valor considerado insuficiente por Costa. Ele diz que serão necessários pelo menos R$ 400 milhões.

Questionado se esperava a visita de Bolsonaro no estado, o governador respondeu que não. "O presidente durante toda a sua gestão demonstrava desprezo em relação à vida humana (...) Ele não demonstra nenhum sentimento em relação à dor do próximo", afirmou.

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