Mortes: Discreta e acolhedora, passou pela vida como uma guerreira

Do sertão potiguar, Luiza cuidou da família desde a infância

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São Paulo

Luiza morreu aos 101 anos sem ter vivido como merecia a infância e adolescência. O enredo é o mesmo do de muitas meninas que assumiram precocemente as responsabilidades da casa com a morte da mãe.

Natural da comunidade de Cavalo Brabo, hoje pertencente ao município de São Rafael, no sertão do Rio Grande do Norte, Luiza era a terceira mais velha de dez filhos de um casal de trabalhadores rurais.

Após ter ficado órfã de mãe, seu pai casou-se novamente e assim ganhou uma meia-irmã. Luiza também responsabilizou-se pela criação da menina.

Luiza Eliza de Araújo (1920-2021)
Luiza Eliza de Araújo (1920-2021) - Arquivo pessoal

Aos 18 anos, em 1938, quando se casou com João Pinheiro de Figueiredo, Luiza substituiu o sobrenome Eliza de Araújo pelo Amélia de Figueiredo.

Em São Rafael morou também na comunidade rural Prego e depois na zona urbana. Ao longo da vida, passou por Mossoró, Macau e Natal, todas no Rio Grande do Norte.

Os filhos se espalharam por vários estado do Brasil, o que não foi impedimento para a reunião familiar ao final de cada ano entre 1970 e 1990.

Luiza era sábia e discreta, mais observava do que falava e ao se comunicar o fazia com voz baixa e mansa. Não se sabe como e com a ajuda de quem, foi alfabetizada já adulta. Cultivou o hábito de ler diariamente e conheceu cada detalhe da Bíblia.

Nas bodas de ouro, Luiza e João viajaram de Mossoró a São Rafael para a realização de uma missa na igreja Nossa Senhora da Conceição com o Padre Amorim, aquele que os casou.

Depois de quase seis décadas de casamento, ficou viúva aos 75 anos. Guerreira, ainda venceu um câncer e perdeu uma filha.

Perto de 80 anos viajou de avião, sozinha e pela primeira vez, para visitar o filho mais velho em Salvador.

Amorosa, mantinha a foto dos familiares por perto, numa penteadeira. "Era orgulho para todos ter a foto na penteadeira dela. A de minha formatura tá lá, nós dois juntos, ela já com 80 e orgulhosa do neto", afirma o jornalista Rudson Pinheiro Soares, 46.

Sob os olhos do neto Rudson, Luiza era a harmonia em vida. "Entremeada em amores e dores, soube combinar a tríade resiliência, fé e sapiência, na dosagem necessária à leveza e à felicidade, mesmo diante das dificuldades da vida", diz.

Neste ano, Luiza chegou a contrair Covid-19, mas sobreviveu. Não pela doença, mas aos poucos seu coração ficou fraco. Ela morreu no dia 22 de novembro. Viúva, deixa oito filhos, 26 netos, 32 bisnetos e dois irmãos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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