Mortes: Espirituoso, era o tradicional alfaiate da Galeria do Rock

José Raymundo de Castro também trabalhava como compositor de jingles de campanhas políticas

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São Paulo

Quem visitava o quinto andar da Galeria do Rock, no centro de São Paulo, tinha a oportunidade de conhecer um dos mais tradicionais alfaiates da cidade, José Raymundo de Castro, que mantinha sua oficina de alfaiataria desde a fundação do espaço, em 1964.

Mesmo nonagenário, era um homem ativo: trabalhava diariamente, ia à feira todos os sábados e à missa todos os domingos. Sempre dizia que não queria parar de trabalhar, mesmo diante da insistência da família para que descansasse.

Sobrevivendo à diminuição da demanda por ternos feitos sob medida, se adaptou e passou a realizar ajustes em roupas, o que garantia parte de sua renda.

À reportagem do jornal Agora, em setembro de 2019, Castro mostrou otimismo quanto à continuidade do seu ofício, apesar do encolhimento. "Dizer que a profissão vai acabar é um grande exagero", afirma.

Jose Raymundo de Castro (1925-2021) - Eduardo Knapp/Folhapress

Não gostava de falar sobre sua idade e, por isso, mentia para todos sobre seu tempo de vida. Dizia que não se sentia com 90 anos, então preferia ficar na casa dos 80.

Em 2021, porém, tinha decidido que trabalharia apenas até as eleições de 2022, mas não somente como alfaiate, como compositor de jingles, sua outra profissão. Nas campanhas eleitorais era um dos profissionais requisitados.

Foi ele quem compôs o famoso jingle do candidato José Maria Eymael (PDC). "Ey ey Eymael, um democrata cristão" foi usado por anos nas campanhas do deputado federal e se tornou sua marca registrada.

Mesmo nonagenário, Castro gostava de se manter atualizado. Fez sozinho seu perfil no Facebook e juntou selos na promoção de um jornal para trocá-los por um smartphone, só para ter acesso ao WhatsApp.

A neta Mariângela ficou responsável pela missão de mostrar ao avô como funcionava o celular, fazendo diversas visitas para ensiná-lo a usar o aparelho.

"Ele era muito preocupado em se manter atualizado com o que estava acontecendo", conta a neta.

Dos medos que tinha, a morte era um deles. Há cerca de cinco anos, passou por um tratamento de câncer de próstata em segredo, contando para a família apenas na última sessão de quimioterapia, com um convite para que o acompanhassem.

Perdeu os quatro irmãos em meses de janeiro e, por isso, após a virada do ano preferia se guardar até a chegada de fevereiro. Assim, o primeiro mês do ano era um período de tensão para o alfaiate, mas ele passou ileso por todos os que viveu.

Castro morreu na noite do dia 22 de dezembro de 2021, aos 96 anos. Deixa os filhos Reinaldo e José Roberto e a neta Mariângela.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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