Mortes: Liderança indígena, promoveu melhorias na aldeia

Mauro Ailton dos Santos era muito extrovertido e brincalhão, mas sabia a hora de falar sério

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São Paulo

Indígena da aldeia Boa Vista de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, Mauro Ailton dos Santos foi uma liderança importante que ajudou a conquistar muitas melhorias para a comunidade, desde a instalação de placas solares até a construção de estradas.

Muito extrovertido e brincalhão, era um verdadeiro piadista, mas que sabia a hora de conversar sério, lembra Luiza da Silva de Oliveira Pará, 34, sua prima.

"Éramos parceiros em tudo. Tinha hora que brigávamos e depois reconciliávamos. Para mim, ele era mais como um irmão do que primo, porque a relação que tínhamos era de irmão", afirmou Luiza.

Imagem em primeiro plano mostra indígena com cocar em um chão de terra
Mauro Ailton dos Santos (1987-2021) - Arquivo pessoal

Natural do Paraná, Mauro Ailton passou parte da infância com a mãe e um irmão mais novo na comunidade Palmeirinha do Iguaçu, pertencente à etnia Guarani Mbya, no município de Chopinzinho (PR). Depois de um acidente em que o irmão veio a óbito, ele se mudou para São Paulo para morar com o pai, Carlos Tupã, na aldeia Guarani Mbya da Boa Vista.

"Jamais imaginaríamos que o Mauro Ailton se tornaria um xondaro [dança guarani praticada apenas por homens] muito grande aqui na nossa aldeia", disse a prima.

A sua liderança começou cerca de dez anos atrás, depois que ele foi intitulado cacique da comunidade. Ficou no cargo dois anos, substituindo o líder da época, que precisou se afastar do posto por questões de saúde. Passado o período, ele permaneceu como uma das lideranças da aldeia.

Luiza lembra que um de seus passatempos era a música. Ele tocava violão e violino e cantava. Com outros indígenas, chegou até a formar uma banda de forró que se apresentava por outras aldeias.

Na tarde do dia 12 de dezembro, uma forte chuva atingiu a região litorânea, derrubando árvores e postes. Segundo a prima, Mauro Ailton foi atingido pela descarga elétrica de um fio de alta tensão e não resistiu.

A notícia chegou a ela através de um amigo, que em uma ligação informou que o primo estava atravessando o Paraguaçu. "[Nós indígenas] não falamos que a pessoa morreu, mas que ela está atravessando o Paraguaçu, que é uma travessia muito grande, o infinito. Nessa hora eu desabei", lembra Luiza.

Mauro Ailton deixa o pai, a mulher, três filhas, irmãos e a prima.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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