Obras em Boiçucanga (SP) atrasam, e turista encontra tapumes em parte da orla

Comerciantes contabilizam prejuízos após recusas na hospedagem

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São Sebastião (SP)

O turista que terá a praia de Boiçucanga, em São Sebastião (197 km de SP), como destino no verão vai ter a companhia de tapumes e maquinário pesado na orla, devido a uma obra que prevê a implantação de áreas esportivas e estacionamento, mas que está atrasada.

A prefeitura da cidade explicou que o isolamento por tapumes mantém o local mais seguro tanto para os trabalhadores quanto para os pedestres.

De acordo com a gestão municipal, o início da obra ocorreu em setembro de 2019, com previsão para conclusão em setembro de 2020. No entanto, "o não cumprimento do prazo ocorreu devido ao atraso no repasse de verbas pelo Estado de São Paulo", uma vez que se trata de reforma executada através de convênio com o governo estadual.

Obras na praia em Boiçucanga, em São Sebastião (SP), atrasam, e turista encontra tapumes na orla - Mathilde Missioneiro/Folhapress

No entanto, em nota, o governo estadual negou ter atrasado o pagamento, no que culpou a prefeitura de São Sebastião pela lentidão na entrega de documentos. "Ao contrário do que diz a prefeitura de São Sebastião, o atraso do repasse da obra ocorreu porque a execução depende do empenho do executor e da agilidade da prefeitura no equacionamento das pendências identificadas."

A prefeitura litorânea explicou que a verba chegou apenas em maio deste ano. Desde então, a execução foi retomada.

Com o atraso, a obra orçada em mais de R$ 6 milhões conta, atualmente, com 30% de seu projeto original, sendo a previsão para conclusão apenas em junho do próximo ano, ou seja, se arrastará por toda a temporada.

Assim que pronta, conforme o município, o espaço terá estacionamento, pista de acesso, quadra de futebol de areia e de basquete, pérgola multiuso, concha acústica, e espaço para jogos e playground, além de deque de contemplação, ciclovias e pista de caminhada.

Prefeitura de São Sebastião diz que espaço terá quadra de futebol de areia e de basquete, concha acústica e espaço para jogos e playground - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Entretanto, com a demora, os comerciantes locais dizem notar prejuízo, que tem crescido nas proximidades da temporada. A reportagem esteve no local no dia 16 dezembro e pôde constatar homens trabalhando nas obras.

Dona de uma grande pousada na rodovia Rio-Santos, na altura em que a reforma está sendo tocada, a empresária Suzana Tavares, 46, afirmou para a Folha que clientes que haviam comprado pacotes para antes do Natal chegaram a ir até o local e foram embora.

"Dois hóspedes [famílias diferentes] não quiserem se hospedar. Com pacote fechado, alegaram que a obra os incomodava e não era isso que eu propagava. Que na internet eu mostro sem a obra e, agora, está em obra."

De acordo com a empresária, cada hospedagem cancelada girava em torno de R$ 3.000, já que cada família ficaria por cerca de uma semana em sua pousada.

"Eles [clientes] alegam que a praia está fechada, sem acesso para uso. A orla não faz parte do pacote da pousada. Pacote de seis dias, de doer o coração."

Assim como Suzana, seus vizinhos também apontam a lentidão na conclusão da obra como fator prejudicial em um período em que a retomada pós-pandemia poderia repor os prejuízos causados durante o período de restrição.

"Atrapalha esse tapume. O pessoal vem de carro e não tem lugar para parar. Eles passam e acham que a praia está interditada e vão para outro lugar. [Tive] queda de 40% [no número] de clientes", relatou Getúlio Alves de Carvalho, 66, responsável por chalés e suítes de frente para o mar.

Outro comerciante que se mostrou aborrecido foi Nilor Lara, 64, proprietário de uma loja de decoração. Ele argumentou estar mais difícil contemplar o pôr do sol em Boiçucanga, um dos mais belos em território paulista.

"Não tenha dúvida que atrapalha. Os clientes perguntam a toda hora. Nós temos um pôr do sol mais lindo, onde as pessoas param os carros para contemplar. Esse é o terceiro ou quarto [final de ano] que vou estar com as chapas na cara. A gente está ansioso para essa obra acabar. Eu acho que está demorando demais."

Se entre os comerciantes há uma série de queixas, entre os frequentadores existem aqueles que não reclamam da cerca.

"A situação climática parou toda a obra. [Tapumes] é coisa da obra, tem que fazer a segurança", disse o cozinheiro Leonardo Cordeiro Soares, 54, ao relatar que tal situação não interfere em seus passeios.

Comerciantes e frequentadores reclamam sobre a demora da obra no litoral paulista - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Já a bióloga Maria Amélia, 63, sustentou que o projeto da prefeitura foi a melhor opção, já que a área estava abandonada e pessoas que ali ficavam mexiam com quem passava pela praia.

"Eu sempre olho áreas esportivas como algo positivo. No Brasil, tudo é demorado, principalmente quando é para benefício social", disse o corretor Almir Lourenço, 61.

No entanto, também foi possível ouvir quem concorde com os comerciantes de que os tapumes atrapalham os frequentadores, caso da bancária Ana Paula Lara, 43, que se preparava para fazer exercícios quando falou com a Folha. "Simplesmente tirou um pedaço do que a gente utilizava. Fecharam o visual, fora o impacto ambiental que isso causa."

Confira a nota da Prefeitura de São Sebastião

A obra está isolada com tapumes, mantendo o local mais seguro tanto para os trabalhadores quanto para os pedestres, conforme a Norma Regulamentadora NR-18.

Os locais destinados a estacionamento são os espaços reservados em vias públicas, conforme rege o Código de Trânsito Brasileiro.

O início da obra ocorreu em setembro de 2019, com previsão para conclusão em setembro de 2020. O não cumprimento do prazo ocorreu devido ao atraso no repasse de verbas pelo Estado de São Paulo –pois se trata de uma obra executada através de convênio com o Governo Estadual– que só aconteceu em maio de 2021.

A partir de então, a obra passou a evoluir e tem previsão para conclusão em junho de 2022.

Atualmente, a obra se encontra com 30% dos serviços concluídos.

É estimada em R$ 6.869.439,23, verba obtida por meio do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos, e aprovada pelo Conselho Municipal de Turismo e Secretaria Municipal de Turismo.

Atualmente estão sendo construídos: estacionamento, pista de acesso, quadra de futebol de areia e de basquete, pérgula multiuso, concha acústica, e espaço para jogos e playground. É prevista, ainda, a construção de palco multiuso para eventos, deck de contemplação, ciclovias e pista de caminhada.

A área total da praça é de 18.000 m². Para área de lazer, são 5.700 m²; 6.000 m² de pavimentação e estacionamento; e 2.000 m² são para jardins. Será a segunda maior praça de eventos do município e a maior da Costa Sul.

Leia nota da secretaria estadual de Turismo

Ao contrário do que diz a prefeitura de São Sebastião, o atraso do repasse da obra ocorreu porque a execução depende do empenho do executor e da agilidade da prefeitura no equacionamento das pendências identificadas, entre elas, correções de planilhas e pedidos de aditamento de prazo. E isso demorou para ser feito.

A reurbanização da Orla de Boiçucanga e Praça Pôr do Sol é objeto de um convênio celebrado entre a prefeitura de São Sebastião e a Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo no final de 2018. O valor total é de R$ 6.663.583,71, mas o primeiro repasse para o município aconteceu apenas em 14/05/2021, no valor de R$ 1.332.716,74, após todos os documentos serem enviados de forma correta.

Estão previstos, ainda, repasses de mais quatro parcelas de mesmo valor, que serão pagas a depender da comprovação adequada da documentação feita pela Prefeitura.

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