Mortes: Defendeu a cultura, a educação e as terras indígenas

Kasiripina Wajãpi foi reconhecido como uma das lideranças mais importantes de seu povo

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São Paulo

O jeito doce e tranquilo de Kasiripina Wajãpi conviveu harmonicamente com o seu espírito guerreiro e protetor. Liderança importante, lutou incansavelmente para defender seu povo e território.

Segundo o estudante Jawaruwa Wajãpi, 35, um de seus sobrinhos, ele nasceu 1960, na aldeia Paruema, na Terra Indígena Wajãpi, no Amapá.

Fundou e presidiu duas vezes o Conselho das Aldeias Wajãpi, criado em 1994, para lutar pela demarcação da Terra Indígena Wajãpi.

Para Jawaruwa, o tio foi um sábio. "Ele foi uma liderança muito importante. Ajudou outros chefes do povo wajãpi a conseguirem a demarcação e homologação da terra, a expulsar os garimpeiros invasores da terra wajãpi. Ao lado dos chefes Waiwai e Kumai, participou de muitos conflitos em Brasília", conta.

Kasiripina Wajãpi (1960-2022)
Kasiripina Wajãpi (1960-2022) - Camilo Capiberibe no Twitter

Kasiripina também teve atuação na educação e não mediu esforços para implantar a formação de professores, de acordo com Jawaruwa.

Para a Apoianp (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará), ele foi um ser iluminado, que ensinou muito às novas gerações de lideranças indígenas. "Estamos muito agradecidos por todos os ensinamentos de nosso chefe, mas tristes por não o termos mais ao nosso lado, a nos guiar nesse caminho de luta", diz a nota.

Mesmo sem estudo formal, aprendeu a usar câmeras e a montar filmes. Habilidoso documentarista, nas décadas de 1980 e 1990 registrou imagens importantes para o povo wajãpi.

"Filmou os eventos, as festas, o trabalho físico de demarcações das terras, as viagens, como a realizada por três lideranças para Nova York e Washington com o intuito de buscarem recursos no Banco Mundial", diz o sobrinho.

Uma de suas conquistas foi o projeto de construção do Centro de Documentação e Formação Wajãpi para registrar, divulgar, fortalecer e valorizar o conhecimento do seu povo. Disseminou a cultura e as tradições.

"Para a atual geração, ele deixa a importância de manter o povo em alerta, lutando pelos direitos e protegendo a terra e seu território, a importância de adquirir conhecimentos, cuidar bem do seu povo e da terra para que ela fique para as próximas gerações. Ele pensava no presente, futuro e na coletividade", afirma Jawaruwa.

Kasiripina morreu no dia 16 de janeiro, por complicações de insuficiência respiratória aguda e pneumonia. Ele havia sido infectado pelo coronavírus. O cacique deixa a atual esposa, os filhos, netos, irmãos, sobrinhos e uma bisneta.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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