Mortes: Se pudesse, daria até os olhos para os netos

Valdemar Catarino foi campeão de bocha e representou sua cidade nos jogos da terceira idade

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Belo Horizonte

Em seu quarto na cidade paulista de Nuporanga (a 378 km da capital), Demá, como era conhecido, guardava muitos tesouros. As paredes eram decoradas na temática do seu time do coração, São Paulo. Dentro dos armários, prêmios e medalhas das partidas de bocha em que representou Nuporanga e de sua época de metalúrgico nos jogos operários. Em uma caixa, todos os comprovantes eleitorais das últimas décadas de eleições.

Na estante, junto com os porta-retratos da pequena família e dos netos, uma foto sua com Mel, a pinscher de sua filha que era sua maior companheira. Demá se chamava de vô também dos cachorros da família. "A Mel é a lembrança mais forte, agora vamos cuidar dela por ele. Se ele pudesse, ficava 24 horas com essa cachorrinha", conta a neta Beatriz Catarino. "Tudo que ele comia, era primeiro para a cachorra e depois para ele."

A generosidade era muita. Os três netos, de olhos castanhos, sempre ouviam a mesma resposta quando elogiavam os olhos azuis do avô: "Pega pra você".

Valdemar é um homem branco, idoso, segurando em seu colo uma cachorra pinscher marrom. Ele usa uma blusa polo branca e uma calça marrom. Está em frente a uma porta em que há uma imagem de santo.
Valdemar Catarino (1934-2022) - Arquivo pessoal

Valdemar era muito ativo e gostava de conversar com todos. Quando estava bem de saúde, criava uma razão quase todos os dias para visitar o comércio local e puxar papo com os amigos.

Fazia viagens de pesca, ia às missas, visitava o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida anualmente, participava de excursões e viagens em grupo para a terceira idade. Sua agitação se tranquilizava para assistir à novela durante a tarde, mas não muito mais do que isso.

Durante a pandemia, mesmo contrariado com o fato de ter que ficar em casa, levou os cuidados muito a sério e não fazia cerimônia para cobrar o uso de máscaras. Animou-se e comemorou cada uma das três doses da vacina que recebeu.

Na segunda metade de 2021, aos 88 anos, em razão de uma isquemia e de um tumor no mediastino, Demá teve sua mobilidade reduzida. Entretanto, não deixava de assistir à missa aos domingos pela TV, abraçado com sua imagem de Nossa Senhora. Nesse período, recebeu visitas dos fiéis amigos do comércio local, a quem convidava para viagens de pesca para quando ele melhorasse.

No último Natal, acamado, chateou-se por não ter comprado presentes para ninguém. Mesmo assim, pediu que a família o vestisse de forma especial para comemorarem juntos. Pouco depois, seu quadro de saúde piorou e já não conseguia mais conversar com a família, que se manteve por perto.

Valdemar Catarino, Demá, morreu no dia 12 de janeiro de 2022, deixou esposa, duas filhas, três netos, uma bisneta e uma cachorra.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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