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Clientes se juntam para salvar único sebo de Franco da Rocha (SP)

Livros foram destruídos pelas chuvas; campanha nas redes sociais foi iniciativa de cliente

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São Paulo

​Moradores de Franco da Rocha (a 47 km de São Paulo) estão mobilizados em uma campanha nas redes sociais com o intuito de arrecadar livros para o Sebo na Praça, destruído pelas chuvas no final de janeiro.

Instalado na praça Caieiras, no centro, era o único sebo que funcionava na região e atendia também municípios vizinhos, como Francisco Morato e Caieiras, por exemplo. Junto ao sebo também havia uma banca de jornais.

As chuvas deixaram um rastro de destruição e 18 mortes somente em Franco da Rocha —34 em todo o estado.

Sebo na Praça, em Franco da Rocha (SP), foi destruído pelas chuvas
Sebo na Praça, em Franco da Rocha (SP), foi destruído pelas chuvas - Acervo pessoal

O apelo para salvar o sebo foi iniciativa de uma cliente, que fez uma postagem nas redes sociais que viralizou. Outras pessoas aderiram à campanha com o compartilhamento do apelo, como foi o caso de Raquel dos Santos.

Moradores de Franco da Rocha (SP) fazem campanha para salvar único sebo da cidade, destruído pelas chuvas
Moradores de Franco da Rocha (SP) fazem campanha para salvar único sebo da cidade, destruído pelas chuvas - Raquel dos Santos no Facebook

Segundo Reginaldo Lúcio da Silva, 59, um dos donos, no início da manhã de 30 de janeiro, em menos de 40 minutos, quase todo o espaço ficou submerso. "Não houve tempo para salvar nada", lembra. O prejuízo mínimo está em torno de R$ 80 mil, de acordo com o proprietário. ​

Neste sábado (12) pela manhã, ele ainda limpava os vestígios de lama. As doações começaram a chegar na quinta (10). O sebo já recebeu cerca de 300 livros de literatura, espíritas e apostilas de concurso.

O cardápio de opções do sebo reunia cerca de 5.000 obras: história em quadrinhos, literatura, poesia, livros técnicos, didáticos, gibis e apostilas para concurso.

O Sebo na Praça nasceu após Reginaldo participar de bazares para auxiliar uma organização.

"Moro há 50 anos e nunca teve sebo em Franco. Como eu trabalhava com livros antes, fazia feiras noturnas de Mairiporã, Caieiras e Franco, e bazares para ajudar a ONG Filhos da Rua, que cuida de animais abandonados. A dona da banca perto da ONG me ofereceu o local. Fiquei com a banca de jornal e montei um sebo junto", conta Silva, que está há mais de dois anos e meio no endereço.

A Folha ouviu três moradoras na cidade que reforçaram o apelo para as doações.

De acordo com a professora Vilma Rocha Cortez, órfãos de locais voltados à leitura, os moradores de Franco da Rocha não podem contar nem com a biblioteca.

"A nossa biblioteca foi atingida por várias enchentes e hoje está em fase de reconstrução. O sebo nos dá a segurança de que o prazer pela leitura existe na nossa cidade; nos dá a sensação de que não é preciso mais sair daqui para buscar conhecimento e o lazer que a gente só tem lendo. Além disso, o sebo traz preços que cabem no nosso bolso", afirma Cortez.

"Aqui em Franco não temos nenhuma livraria. Tinha uma no shopping que abriu e logo em seguida fechou. Livro é uma coisa cara, e a população tem suas dificuldades. Não tem só o prejuízo financeiro, mas o emocional porque numa cidade que falta tanta coisa ficamos privados da cultura também", diz a jornalista e advogada Fernanda Gomes de Sá Poli, trabalha e tem família em Franco da Rocha, onde também morou.

Raquel dos Santos, servidora do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, frequentava assiduamente o sebo.

"Eu que tenho uma filha de 17 anos acho legal quando as pessoas se interessam pela leitura. Quando eu ia ao sebo e via as pessoas comprando livro, achava muito bonito. Os livros fazem com que ela vá bem na escola e tenha um bom português. Muitos livros que compro para a minha filha são do sebo. Quando íamos lá, ficávamos cerca de uma hora. Ficarei feliz por ajudá-lo e por ver aquele sebo funcionando cheio de livros novamente", diz.

Além de comercializar os livros com preços muito baixos, Silva incentivava a leitura com promoções, trocas e doações a um acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na cidade, aos internos da Fundação Casa e detentos das penitenciárias.

"Não montei isso aqui [sebo] no intuito de ganhar dinheiro, foi mais para ajudar", ressalta Silva.

Como doar

As doações de livros podem ser entregues de segunda a domingo, das 8h às 19h, em dois endereços: rua Coronel Domingos Ortiz, 299, e rua Amália Sestini, 20, em Franco da Rocha.

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